O CONTATO EM UM CLICK:
SER-COM EM UM MUNDO SUPERVIRTUALIZADO
Internet, CMC, redes sociais, Heidegger, Era da técnica, pesquisa fenomenológica
Nas últimas duas décadas, o cenário mundial vem sofrendo rápidas transformações e quebra de paradigmas. Temos como cenário um mundo globalizado, capitalista, denominado hipermodernidade, por Gilles Lipovetsky (2004), em que tudo ocorre de forma hiperlativa (hiperconsumo, hipermercados, hipercorpo, hiperbeleza, hipercards), numa sociedade efêmera e líquida (Bauman, 2001). A Internet, neste contexto, está no centro das atenções, reconfigurando o mundo em que estamos lançados e a vida em sociedade, que traz relações cada vez mais mediadas pelas Tecnologias de Informação (TIC´s), como a Comunicação Mediada por Computador (CMC), que se faz presente através de diversas ferramentas virtuais: Facebook, Orkut, Twitter, além de tantos outros recursos como os blogs e o Youtube. As finalidades de tais recursos se resumem a especialmente um foco: contato. Seja ele em suas mil variações: profissional, social, afetivo, auto-expressivo, falar de si, saber do outro, encontrar pessoas, divulgar, opinar, publicar. Assim, é inaugurado um mundo paralelo, com trânsito incalculável de arquivos, publicações e pessoas, a cada segundo, que acessam este mundo paralelo virtual, o ciberespaço, a partir de demandas específicas, e inauguram o termo que introduziremos aqui, como “A Era do Click”. Este nome foi escolhido para caracterizar o que mais se sobressai neste mundo supervirtualizado: velocidade e instantaneidade em um click. Tudo ou quase tudo se torna possível a partir desta pequena ação no computador (ou: tablet, smartphone, TV, etc.), abrindo as portas para um mundo novo, atrativo e quase mágico, que nos convida a entrar sem hora para sair. Neste mundo, o limite é a criatividade de cada usuário, que, progressivamente, vem aumentando seu tempo de navegação diária, a cada ano. Para uma boa parte da sociedade, a internet tornou-se tão acessível quanto o aparelho celular, já que ambas as funções – ligação e Internet - se fundem em um só aparelho, o que reflete o avanço das tecnologias “nômades”. Assim, a Internet, agora móvel, se massificou ainda mais, podendo ser acessada em movimento, de qualquer lugar do planeta, desde que se tenha um aparelho com wi-fi, ou seja, com acesso à Internet sem fio. Isso significa que, com aparelhos hightechs, como por exemplo, os smartphones, é possível estar conectado 24h por dia, ininterruptamente. Diante desta acessibilidade, e com tantos recursos virtuais que se diversificam com os avanços tecnológicos, são possibilitados novos modos de relação e de estar-no-mundo, o que justifica a importância de se investir na construção de saberes que auxiliem na compreensão do impacto destas tecnologias na vida do homem. Em termos de produção científica sobre o tema, muito se tem feito a respeito, com iniciativas que partem do mundo todo; contudo, na perspectiva compreensiva da fenomenologia, ainda há muito a ser estudado. Diante disso, por tratar-se de um tema atual e importante, apoiando-se nas reflexões acima apresentadas, a presente pesquisa tem como objetivo principal compreender os sentidos da experiência de jovens e adultos na interação virtual com redes sociais, como Facebook, Orkut e Twitter. Valorizando as questões do Dasein, nome atribuído ao homem por Heidegger, e inspirados nas idéias deste filósofo sobre a “Era da Técnica”, refletiremos aqui sobre os modos de ser-no-mundo hipermoderno. Neste sentido, cabem alguns questionamentos que serão abordados ao longo de nosso trabalho, focando a experiência e o vivido dos colaboradores. Como é experienciada a interação virtual pelos usuários? Esta modalidade de interação estaria interferindo nos contatos presenciais? Como? O que estaria mobilizando tamanha exposição da vida privada? Como são sentidos tempo e espaço, estar junto e longe ao mesmo tempo, relacionar-se via computador e presencialmente? Além de outras questões que serão discutidas ao longo do corpo teórico. No que se refere à estratégia metodológica, optou-se pelo enfoque qualitativo, baseado igualmente na fenomenologia de Heidegger, por representar uma estratégia que favorece a compreensão dos sentidos da experiência para cada colaborador, em relação à questão problematizada. Serão investigados os limites tênues entre público e privado, espacialidade e temporalidade, propriedade e impropriedade, dentre outros aspectos inspirados na ótica fenomenológica heideggeriana. Este estudo se propõe a ampliar o olhar sobre nossa realidade e contribuir para uma reflexão existencial acerca dos sentidos da experiência desses novos modos de interação para os colaboradores da pesquisa, em seus modos-de-estar-no-mundo nesta Era do Click, que será relacionada à idéia de Era da técnica, de Heidegger. Traremos como instrumentos de investigação: levantamento bibliográfico, enquetes virtuais e entrevistas individuais, inspiradas nas narrativas de Benjamin (1983) e Dutra (2002). Esta modalidade diferenciada de entrevista oportuniza que o colaborador narre sua história, tecendo sentidos à sua experiência, junto ao entrevistador, o que possibilita um momento único de encontro entre pessoas e ressignificação de histórias. Estarão aptos a participar, jovens e adultos que se utilizem das ferramentas sociais virtuais: Orkut, Facebook e Twitter. Este perfil viabilizará os objetivos da pesquisa, partindo de um diálogo sobre sua experiência em tais meios, desvelando seus sentidos. O convite para participação dos colaboradores será via redes sociais, e-mail e pessoalmente. Esta pesquisa será realizada na cidade de João Pessoa – PB, podendo ser realizada na cidade de Natal – RN, caso haja demanda. A fenomenologia hermenêutica de Martin Heidegger fundamentará o trabalho como um todo, inclusive a análise dos dados, por meio da interpretação hermenêutica. O corpo teórico deste estudo consta de seis capítulos, a saber: 1) Tempos modernos, 2) A era do click e suas possibilidades, 3) Modos de ser na Era da técnica, 4) Método, 5) Interpretações e comentários e 6) Considerações finais. Atualmente, a pesquisa como um todo se encontra com o embasamento teórico (capítulos) praticamente finalizado. A sondagem do campo de pesquisa está concluída, tendo sido realizada em dois momentos. Inicialmente, pelo site Blogger, foi criado um blog interativo, denominado “Na era do click”, em que foram postados textos, vídeos e imagens sobre questões relacionadas ao mundo virtual, aberto a comentários do público. Em um segundo momento, foram criadas duas comunidades, uma no Facebook e outra no Orkut, com o mesmo título do blog “Na era do click”, com a proposta de trazerem enquetes virtuais abertas, tratando sobre as relações no ciberespaço, lançadas em tais redes, para serem respondidas por seus usuários. Estas estratégias foram pensadas com o intuito de ajudar a pensar o tema da pesquisa, auxiliando na elaboração das questões que nortearão as entrevistas, que têm previsão para ocorrer em Junho do corrente ano. As demais etapas da pesquisa, previstas no cronograma de atividades, terão prosseguimento tão logo o Comitê de Ética da UFRN, que está com o recebimento de submissões de trabalhos suspensos desde Dezembro de 2011, por questões internas, retomar suas atividades. Neste ínterim, estará sendo finalizado o corpo teórico e elaboradas as questões norteadoras da entrevista.