A atuação clínica de psicólogas negras do município de Natal: notas sobre aquilombamento e cuidado.
Racismo; Psicologia Clínica; Mulheres; Aquilombamento; População Negra
Nesta pesquisa, parto da minha experiência enquanto mulher negra e psicóloga clínica e das inquietações que surgiram a partir deste lugar. Neste estudo, proponho investigar os desafios presentes na construção das práticas clínicas por psicólogas negras no município de Natal/RN e os caminhos possíveis para uma psicologia descolonizada e antirracista. Levo em consideração que o processo histórico da sociedade brasileira é determinado pela colonização e pelos efeitos da colonialidade que estruturam a ordem estabelecida na classificação e hierarquização social. Sendo assim, o racismo é um fenômeno dessa colonização, tornando-se estruturante dos modos de subjetivação, permeando e atravessando as relações concretas nos âmbitos da economia, direito, política e, de forma ideológica, construindo o imaginário social racista, opressor e excludente (Silvio Almeida, 2019). A produção de conhecimento também é atravessada pelos efeitos da colonialidade com a finalidade de construir um pensamento “universal”, porém pautado por uma razão eurocêntrica. A psicologia, como conhecimento científico, também é constituída nas bases do eurocentrismo, racismo e sexismo epistêmico. Esta pesquisa tem como objetivo compreender as repercussões do racismo no processo de formação e na atuação profissional de psicólogas negras no campo da clínica. Analiso as trajetórias de vida e os processos formativos das profissionais e seus efeitos na prática clínica para conhecer os desafios em nossas experiências em uma clínica historicamente colonizada e a construção de resistências coletivas no enfrentamento ao racismo. Para tanto, esta pesquisa qualitativa realizou entrevistas para apreender as narrativas de psicólogas negras que atuam na clínica. Foram entrevistadas 5 profissionais atuantes no município de Natal. Enquanto resultados, a pesquisa propõe o exercício de novas práticas clínicas no entendimento do impacto do racismo na saúde mental da população negra. Por fim, discuto como a psicologia clínica pode ser construída em uma perspectiva de aquilombamento e cuidado e a importância disso para um projeto ético-político descolonizador e antirracista.