PRODUÇÃO CIENTÍFICA DE PSICOLOGIA EM INTERFACE COM O MARXISMO: UMA ANÁLISE A PARTIR DO CASO BRASILEIRO
Psicologia; Marxismo; Produção Científica.
A partir dos anos 1970, no Brasil, a conjuntura socioeconômica e política provoca a
Psicologia a fazer avaliações acerca de seu público, referenciais, áreas de atuação e o valor
social da profissão: o contexto deflagra a chamada “Crise de relevância”. O esforço teórico
em responder às crises culmina nas produções que posteriormente compõem o rol das
Psicologias Críticas (Lacerda, 2013). Emerge desse bloco o Marxismo como influência de
algumas dessas perspectivas. A perspectiva marxista é aqui considerada como o campo
teórico-metodológico que pode contribuir para uma Psicologia verdadeiramente
transformadora, por possuir como fim último a emancipação humana. Diante do que foi
exposto, nos interessa investigar que possibilidades brotam da relação do Marxismo com a
Psicologia, problematizando como essa relação ocorre no Brasil, a partir da produção
científica da área. Desse modo, as questões que movem a pesquisa são: Quais as relações
possíveis entre Psicologia e Marxismo no contexto científico brasileiro? O que se vê como
demanda ou justificativa para este tipo de produção científica? O que as autorias buscam
alcançar ao adotar tais articulações? Como resultado de tal empreendimento, objetivou-se
gerar um mapa da produção científica brasileira em Psicologia sob a ótica do Marxismo.
Foram coletados 124 artigos, categorizados em banco de dados eletrônico e analisados em
dois blocos: cientométrico e temático. Identificou-se que as produções advém sobretudo das
universidades públicas do Sudeste do país; veiculados em periódicos de elevada avaliação
Qualis; verificou-se que em sua maioria são estudos teóricos; são trabalhos vinculados a
diversas áreas da Psicologia, mas principalmente à Psicologia Educacional. Nos estudos
observou-se a apreensão de categorias fundamentais de Marx, ainda que de forma residual.
Na relação do Marxismo com a Psicologia, indiretamente, é possível ver essa articulação
através de autores ou perspectivas da área, como Vigotski e a Psicologia Histórico-Cultural,
sendo estes um sinônimo para a Psicologia do que seria o Marxismo. Ademais, o Marxismo
também aparece justaposto a outras perspectivas teóricas que com ele pouco dialogam,
denotando que o trabalho não é fundamentado no Marxismo, embora que conceitos da
tradição estejam presentes. Em síntese, diferentes modalidades de articulação se colocam
para a Psicologia e o Marxismo, não havendo uma prevalência de como a área se apropria do
referencial. A articulação se dá como fundamento a uma Psicologia de inspiração marxiana,
como crítica à Psicologia e como complemento às análises psicológicas (Calviño, 2013).
Considera-se indispensável que a aproximação com o referencial suscite reflexões para a
Psicologia, para questionar a individualização e a psicologização de fenômenos estruturais e
reforçar a percepção de seu papel como classe trabalhadora e agente de mudança.