Intervenção-pesquisa no Centro de Convivência e Cultura de Natal: por uma clínica do interstício.
desinstitucionalização, saúde mental, arte, clínica, serviços comunitários de saúde mental
Essa intervenção-pesquisa se desenvolve a partir da imersão da pesquisadora como trabalhadora na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Natal-RN, trazendo para análise produções realizadas com o Centro de Convivência e Cultura (CECCO) que apontam pistas para a criação de aberturas na RAPS em direção à cidade. Afirmamos que a atenção psicossocial, para sustentar seu devir antimanicomial, precisa se dar nesse entre, lugar inespecífico que se tece na relação com o fora, no transbordar de campos previamente delimitados. Apostando nos saberes e na arte dos convivas, frequentadores do CECCO, trazemos os mesmos como intercessores nessa investigação sobre como a arte interroga a atenção psicossocial, potencializando os processos de desinstitucionalização da loucura. Apresentamos o desenvolvimento da pesquisa através de três atos como marcadores de seu processo de construção: o primeiro corresponde à inserção da trabalhadora-pesquisadora no campo, enquanto psicóloga e gestora do CECCO e narra uma intervenção-estética na cidade; no segundo, atravessando o contexto da pandemia da COVID-19, narramos como o CECCO foi se reinventando perante a necessidade de distanciamento social; e, no terceiro tempo, passamos a nos dedicar na organização do Acervo do CECCO, momento em que a articulação e proposição de uma exposição/Mostra Cultural emerge como método de pesquisa-intervenção no campo da arte e saúde mental. Delineando gestos artísticos na clínica e cartografando possíveis clínicas do fora, ativamos memórias afetivas e narrativas de trabalho, mapeando experiências e conceitos no campo da arte, da filosofia e da clínica que auxiliem a ocupar esses espaços intersticiais entre arte-clínica e política. Buscamos dar visibilidade à luta por territórios de vida e criação na RAPS, investindo na capacidade de todos, sobretudo dos ditos “loucos”, de produzirem arte e de, principalmente, criarem caminhos que possam alargar estreitezas e reducionismos que a atenção psicossocial ainda reproduz ao lidar com o sofrimento, fechando sentidos na direção da doença, ao invés de oferecer aberturas na afirmação das vidas.