SAÚDE E TRABALHO: UMA ANÁLISE DA ATIVIDADE LABORAL DE SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS EM EDUCAÇÃO (TAE’s)
Atividade de trabalho, Aspectos psicossociais do trabalho, Saúde no trabalho, desenvolvimento (do) profissional, Transtorno mental comum.
Pretende-se analisar a atividade laboral dos técnicos-administrativos em educação (TAEs) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a fim de investigar as possibilidades de desenvolvimento e impedimentos ao poder de agir destes trabalhadores nas dimensões individual, interpessoal, transpessoal e impessoal, em contexto de precarização laboral. Ao longo dos últimos anos, percebeu-se crescimento no número de adoecimentos relacionados ao trabalho no serviço público federal, sinalizando para uma atividade de trabalho que precisa ser cuidada e investigada, uma vez que o avanço da precarização vem expandindo-se entre aquelas categorias consideradas estáveis e privilegiadas, dando origem ao que se denominou precarização subjetiva ou clínica. Portanto, objetivou-se identificar a percepção dos TAEs sobre os aspectos psicossociais do trabalho e sua relação com a ocorrência de transtornos mentais comuns (TMC), considerando-se o perfil sociodemográfico, ocupacional e de saúde. Utiliza-se o referencial teórico da saúde coletiva em seus estudos epidemiológicos, para em uma terceira fase da pesquisa estabelecer o diálogo entre os dados da primeira e segunda fases com o referencial desenvolvido pela Clínica da Atividade e da Psicologia Histórico-cultural, no referenciamento de operadores teóricos como saúde, atividade de trabalho, poder de agir, desenvolvimento, trabalho bem-feito, precarização do trabalho. Na primeira etapa da pesquisa, realizou-se uma pesquisa documental sobre as principais causas de adoecimento dos TAEs de instituição de ensino superior do nordeste brasileiro, a fim de identificar as principais causas de afastamento da atividade laboral devido ao adoecimento desse público. Em seguida, aplicou-se questionário estruturado, autoaplicável, composto de 5 seções: A) perfil sociodemográfico; B) histórico ocupacional; C) Hábitos de vida e saúde, D) questões oriundas do Job Content Questionnaire (JCQ) e E) questões oriundas do SRQ-20. Realizaram-se análises estatísticas descritivas e de correlações bivariadas por meio do software SPSS versão 22. Detectou-se que dentre as principais causas de afastamento dos servidores da instituição no ano de 2018, considerando o número de dias de afastamento, destacaram-se os transtornos psiquiátricos (31%); doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (21%) e neoplasias (10%). Nos anos de 2016 e 2017, tais causas se repetiram com variações percentuais. Desta forma, vemos uma recorrência dos transtornos mentais entre as três principais causas de afastamento na instituição nos últimos anos (SIASS, 2018). Obteve-se uma prevalência de 44,9% de TMC na população pesquisada. Destes (N=254), as atividades com maior quantitativo de ocorrências foram os assistentes em administração (24,8%) e os profissionais da saúde (24%), seguidos dos técnicos de laboratório (9,8%) e administradores (5,9%), desconsiderando-se a categorias outros (10%) dada sua heterogeneidade. Houve correlação significativa entre a ocorrência de TMC e as seguintes categorias dos aspectos psicossociais do trabalho: controle sobre a atividade (-,139**); demanda psicológica (,178**), suporte social (-,218**) e pelos quadrantes (,151**). Considera-se a necessidade de continuidade da pesquisa, aprofundando os achados em um viés clínico-desenvolvimental, a fim de compreender as possibilidades e obstáculos de desenvolvimento na atividade dos TAEs. Estes resultados irão subsidiar a terceira etapa da pesquisa, a fase clínica, na qual serão utilizadas técnicas de instruções ao sósia aos trabalhadores que se disponibilizarem a participar. Esta etapa ocorrerá após reunião de apresentação aos gestores e público-geral da instituição dos dados coletados nas fases 1 e 2.