“NÃO ME DEIXE MORRER DE FOME”: NUTRICIONISTAS E A (NÃO) ALIMENTAÇÃO DE PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVOS NAS SITUAÇÕES DE TERMINALIDADE DA VIDA
alimentação; nutricionistas; cuidados paliativos; morte.
Os Cuidados Paliativos (CP) correspondem a uma abordagem que promove qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida. A alimentação faz parte desse cuidado, sendo recomendada para doença avançada a oferta de conforto e prazer. No cuidado alimentar e nutricional em CP, também é possível a não alimentação do paciente em situações específicas, conduta carregada de discussões. Com o objetivo de compreender como os nutricionistas lidam com a (não) alimentação e nutrição de seus pacientes em CP nas situações de terminalidade da vida, realizamos uma pesquisa qualitativa com 7 nutricionistas que lidam com essa situação na prática. Utilizamos como instrumentos metodológicos entrevistas narrativas e oficinas com uso de cenas projetivas. A análise interpretativa foi ancorada na Hermenêutica Gadameriana. No diálogo com as narrativas identificamos que a morte na vida pessoal é considerada natural, mas carregada de sofrimento, e a morte no cotidiano profissional transita entre sentimento de impotência à ressignificação do papel de cuidar, sendo ainda ausente na formação dos nutricionistas. Os significados da alimentação falam da promoção do cuidado e respeito pela história alimentar do paciente; já o conceito de CP evidencia a promoção da qualidade de vida até a proximidade da morte, minimizando os desconfortos e compreendem o papel da alimentação para além da recuperação, incluindo prazer, conforto e cuidado amoroso. Os desafios do cuidado alimentar e nutricional diante do fim são muitos e se expressam nos limites dos protocolos, na busca de garantir a qualidade de vida para o paciente e no esgotamento das estratégias terapêuticas de conduta alimentar e nutricional. Por outro lado, diante da proximidade da morte a espiritualidade aparece como recurso de enfrentamento, bem como, a possibilidade de oferecer conforto até o fim potencializa a descoberta de que é possível cuidar não alimentando.