Trabalho e saúde mental: o caso dos agentes do sistema prisional no Rio Grande do Norte
sistema prisional; agentes penitenciários; condições de trabalho; saúde mental; álcool e drogas.
Agentes Penitenciários estão constantemente expostos às situações de violência e ameaças, as quais estão associados ao surgimento de enfermidades ocupacionais como Transtornos Mentais Comuns/TMC e consumo de abusivo/dependente de substâncias psicoativas. Em função disso, objetivou-se investigar a relação entre trabalho e saúde mental entre agentes penitenciários do Rio Grande do Norte, categoria pouco investigada no âmbito acadêmico. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. A etapa 1 constou do mapeamento da incidência de TMC e padrão de consumo de drogas junto a 403 agentes penitenciários de um total de 902 trabalhadores. Como ferramentas metodológicas, utilizamos o Self-Reporting Questionnaire/SRQ-20, o ASSIST e questionário sócio demográfico. Constatou-se uma incidência de 23,57% de casos suspeitos de TMC e consumo abusivo/dependente em tabaco, álcool, maconha, cocaína, anfetamina, inalante, hipnótico, dado que inspira preocupação e cuidado. A etapa 2 consistiu em visitas às unidades prisionais cujos agentes apresentaram maiores índices de TMC e consumo abusivo/dependente de drogas, visando identificar aspectos relacionados aos problemas mapeados na etapa anterior. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 6 gestores, com 19 agentes e 9 familiares que concordaram em participar. Detectou-se uma evidente desvalorização social da profissão, que associada às precárias condições de trabalho e às particularidades do processo e organização do trabalho, tornam esses trabalhadores vulneráveis nas dimensões subjetiva (dinâmica cotidiana que leva ao sofrimento), familiar (devido à rotina de trabalho amedrontadora), relacionada ao trabalho (falta de controle, sentido e autonomia) e programática (baixa visibilidade no âmbito das políticas públicas). Essa pesquisa buscou contribuir com o debate crítico sobre o Sistema Prisional Brasileiro por meio de análises acerca do encarceramento, considerando suas configurações e efeitos no próprio agente do Estado que se encontra na mesma condição do apenado. Reafirma-se, por fim, que tal sistema é tão perverso que adoece e condena a todos, em particular, os que nele trabalha.