UMA EXPERIÊNCIA DE PLANTÃO PSICOLÓGICO EM MATERNIDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES
Plantão Psicológico; Clínica Fenomenológica; Aborto; Saúde Pública; Hermenêutica heideggeriana.
O presente estudo discorre sobre a experiência de um serviço de plantão psicológico na Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC) na cidade de Natal e apresenta como objetivo principal investigar os limites e possibilidades dessa prática ao oferecer atendimento para mulheres em processo de abortamento. O Ministério da Saúde considera o aborto um grave problema de saúde pública no Brasil e reconhece as repercussões que este provoca na vida pessoal e familiar das mulheres, principalmente as jovens em plena idade produtiva e reprodutiva, que se não forem amparadas podem sofrer graves sequelas físicas e psicológicas. Esta pesquisa insere-se nas chamadas práticas psicológicas em instituição que buscam oferecer, por meio de modalidades diversas, entre as quais o plantão psicológico, uma atenção psicológica nas instituições. Essa atenção refere-se ao acolhimento do sofrimento psíquico no momento da crise e nos mais diversos contextos onde se faça presente uma demanda. Os resultados foram analisados à luz da hermenêutica heideggeriana, que busca um determinado aspecto da realidade que se pretende conhecer/compreender, acompanhando o próprio movimento do homem em sua existência. Elegemos a cartografia e a narrativa escrita em diário de bordo como recursos que possibilitam uma aproximação da experiência cotidiana. A partir da cartografia realizada na instituição e do diário de bordo foi possível elaborar uma compreensão dos possíveis sentidos que se estabeleceram na experiência do plantão. A trama existencial tecida e destecida nesta experiência revelou de forma preliminar algumas possibilidades e limites da prática do plantão: o plantão acolheu as mulheres em processo de abortamento no momento da urgência, favorecendo a produção de novos sentidos e a restituição do cuidado dessas mulheres; o plantão mostrou sua função política, ao levar um serviço para uma demanda relegada tanto socialmente quanto pela própria instituição; o plantão promoveu uma abertura no horizonte técnico da maternidade; o plantão revelou o despreparo da equipe de saúde em lidar com a demanda do aborto para além dos procedimentos técnicos; observou-se que algumas demandas extrapolam o serviço de plantão; e por fim a experiência revelou que o plantão não sensibilizou a equipe de saúde quanto à sua procura e quanto a uma mudança de postura para além do saber técnico.