Gênero, trabalho e saúde mental entre trabalhadoras rurais assentadas na região do Mato Grande Potiguar.
transtornos mentais comuns; atenção primária; assentamentos rurais; determinantes sociais da saúde; gênero.
A carência de estudos voltados à saúde mental da população rural, o impacto socioeconômico, familiar e afetivo que os transtornos mentais produzem e o lugar de vulnerabilidade que as mulheres ocupam nas áreas rurais, impõem a necessidade de investigar a realidade de mulheres assentadas e trabalhadoras rurais, visando subsidiar a elaboração de programas e políticas públicas de saúde mais eficazes e culturalmente sensíveis que levem em conta as especificidades dessa população. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo investigar a prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) e os possíveis fatores associados à emergência de tais transtornos entre mulheres residentes de um assentamento rural do RN. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa que parte de uma abordagem quantitativa e qualitativa de inspiração etnográfica. Inicialmente aplicamos uma versão adaptada do questionário sócio-demográfico-ambiental elaborado pelo Laboratório de Análises Estratégicas da UFRN/Departamento de Geologia para avaliar a qualidade de vida das famílias do assentamento e o instrumento de rastreamento em saúde mental Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) para identificar a prevalência de TMC nas mulheres adultas da comunidade. Complementando o rol de ferramentas, nos valemos da observação participante do cotidiano do assentamento e entrevistas semiestruturadas com as mulheres que apresentaram hipótese positiva de TMC buscando apreender os atravessamentos que constrõem a experiência subjetiva de ser mulher nesse contexto. Os resultados apontam a alta prevalência de TMC (43,6%) e sugerem a articulação entre pobreza, falta de redes de apoio social e comunitária, relações desiguais de gênero e a ocorrência de TMC. Constatamos ainda que as assentadas não acessam a rede de saúde para tratar de questões relativas à saúde mental e que o único recurso de cuidado ofertado pela atenção primária é prescrição de medicação ansiolítica, destacando-se a religiosidade e o trabalho como os mais importantes fatores de suporte à saúde mental entre as mulheres no contexto do assentamento rural.