Gestão Autônoma de Medicação (GAM) e Redução de Danos no Contexto Potiguar: uma composição possível?
Gestão Autônoma de Medicação, Redução de Danos, Drogas, Saúde Mental.
No Brasil, políticas e leis proibicionistas estão em constantes conflitos com a política de Redução de Danos
(RD) e o modelo de atenção psicossocial, construído com a Reforma Psiquiátrica, que visam cuidar de pessoas
em sofrimento decorrente do consumo de drogas. Nesse campo de tensões, encontramos vários problemas para
garantir o cuidado humanizado e em liberdade. Dentre eles, o elevado consumo de medicamentos psiquiátricos e
a terapêutica farmacológica como principal estratégia de tratamento, cuja participação das pessoas nas decisões
sobre seu tratamento e o acesso às informações sobre prescrições é mínima. Para enfrentar esta problemática, foi
desenvolvida no Canadá a estratégia Gestão Autônoma da Medicação (GAM). Embora traduzida e adaptada ao
contexto brasileiro, ainda há o desafio de compreender e avaliar sua pertinência e potencialidade no campo de
álcool e outras drogas em suas especificidades. Com o intuito de ampliar a discussão para substancias lícitas e
ilícitas, prescritas e não prescritas, considerando o norte ético da RD, a pesquisa objetivou acompanhar a
experiência GAM em um CAPSad do município de Natal-RN, mapeando seus limites e potencialidades. A
partir de uma pesquisa-intervenção de inspiração cartográfica, foi possível acompanhar a experiência e produzir
três planos de composição analítica: 1) Das experiências cotidianas e micropolíticas de cuidado, apontando para
uma diluição nas fronteiras entre essas substâncias na perspectiva de uma “gestão autônoma de múltiplas
substâncias”; 2) Da GAM como dispositivo grupal, que permite operar a ética da RD no âmbito coletivo e
cogestivo, a partir da transversalidade entre diferentes saberes e práticas e 3) GAM como estratégia de
promoção de autonomia coletiva com a configuração de redes de apoio entre os participantes. Concluindo, o
encontro entre GAM e RD nos convoca ao compromisso ético-político com a questão das drogas, com as lutas
antimanicomiais e antiproibicionistas e, sobretudo, com a vida das pessoas.