INFLUÊNCIA DAS VARIAVEIS CLIMÁTICAS SOBRE A PESCA ARTESANAL EM PECÉM-CEARÁ
CPUE; Produtividade Pesqueira Artesanal; Correlação Cruzada.
O fenômeno das mudanças climáticas intensificou o interesse global nos impactos do aquecimento global em diversos setores, incluindo a pesca artesanal, especialmente em regiões vulneráveis como o distrito de Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante, Ceará. As alterações climáticas, em particular a elevação das temperaturas globais e as mudanças nos padrões de precipitação, afetam diretamente a produtividade pesqueira. A análise dessas variáveis no contexto específico da pesca artesanal em áreas costeiras é essencial. Este estudo tem como objetivo explorar a relação entre variáveis meteorológicas e a atividade pesqueira em Pecém, utilizando séries de dados de precipitação, temperatura da superfície do mar e velocidade do vento dos anos de 2019 a 2022. Esses dados foram obtidos de fontes confiáveis como a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e a reanálise do ERA-Interim. Além disso, dados específicos da atividade pesqueira foram fornecidos pelo Projeto de Monitoramento do Desembarque Pesqueiro (PMDP) e pelo Projeto de Espacialização da Pesca (PEP), ambos coordenados pela Petrobras. A análise estatística incluiu métodos de estatística descritiva, cálculos de captura por unidade de esforço (CPUE), correlações simples e cruzadas, diagramas de Taylor, cálculos de viés, erro quadrático médio (RMSE) e o teste de Wilcoxon. Um dos principais achados deste estudo foi a observação de uma relação inversa entre CPUE e atividade pesqueira, com médias mensais de CPUE mais altas registradas entre novembro e março e médias mais baixas entre abril e outubro. Esse padrão sugere que as condições meteorológicas influenciam diretamente a eficiência da pesca em diferentes épocas do ano. A forte correlação entre os dados de precipitação obtidos pela reanálise do ERA-Interim e os dados observados pela Funceme validou o uso desses dados de reanálise no estudo. Os cálculos de viés e RMSE, juntamente com o diagrama de Taylor, corroboraram a adequação dos dados de reanálise. Ao mesmo tempo, o teste de Wilcoxon indicou um p-valor superior a 5%, não rejeitando a hipótese nula e confirmando a validade dos dados utilizados. Observou-se a influência das variáveis meteorológicas na produção total e na CPUE. A temperatura da superfície do mar apresentou a maior correlação negativa, especialmente com uma defasagem de quatro meses em relação à produção total. Esse achado é particularmente relevante para espécies como o camurim, que mostrou maior sensibilidade às mudanças na temperatura da superfície do mar, evidenciando uma relação prejudicial entre a atividade pesqueira e a CPUE, com uma defasagem de quatro meses. Em resumo, este estudo destaca a importância das variáveis meteorológicas na pesca artesanal em Pecém, apontando para a necessidade de políticas adaptativas que considerem essas variáveis na gestão pesqueira. O uso de dados meteorológicos robustos, como os provenientes do ERA-Interim, combinados com métodos estatísticos rigorosos, pode fornecer insights valiosos para a sustentabilidade e eficiência da pesca em regiões vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas.