Avaliação integrada do sistema carbonato em ambiente recifal e das respostas metabólicas de siderastrea stellata ao estresse térmico
Fluxo de CO2; Acidificação; Mudanças climáticas; Parrachos.
Os recifes de corais estão entre os ecossistemas mais vulneráveis às mudanças climáticas globais, especialmente devido à acidificação oceânica, que altera o sistema carbonato e prejudica a calcificação dos corais. O aumento das emissões de CO₂ intensifica a dissolução desse gás nos oceanos, promovendo desequilíbrios no pH e nos processos biogeoquímicos. Além disso, o aumento da temperatura provoca estresse térmico e branqueamento, afetando a simbiose entre corais e zooxantelas. Este estudo teve como objetivo avaliar o sistema carbonato e os fluxos de CO₂ nos Parrachos de Rio do Fogo (RN), bem como investigar os efeitos do estresse térmico sobre o metabolismo do coral Siderastrea stellata. Foram realizadas seis expedições entre maio de 2024 e maio de 2025, com coletas em dois recifes (Garças e Rastro) durante períodos seco e chuvoso. Nos parrachos foram analisados os parâmetros físico-químicos, nutrientes e variáveis do sistema carbonato. Paralelamente, experimentos ex situ de estresse térmico foram conduzidos em colônias de S. stellata, expostas a temperaturas controladas (27–32 °C), sob condições de luz e escuro, para mensurar taxas de metabolismo e calcificação. Os resultados mostraram que não houve diferenças significativas entre os recifes Garças e Rastro, mas ocorreram variações sazonais marcantes. No período chuvoso, observaram-se menores valores de pH e salinidade e aumento da temperatura, nutrientes e CO₂ dissolvido, indicando maior aporte continental e intensificação da respiração e decomposição. Em contrapartida, no período seco, houve predomínio de processos internos e maior calcificação. A análise de componentes principais (PCA) explicou 70% da variabilidade, separando nitidamente os períodos seco e chuvoso. A %NCP de 66,3% revelou predominância do metabolismo do carbono orgânico, com o recife atuando como sumidouro de CO₂ no período seco (autotrofia líquida) e fonte de CO₂ no chuvoso (heterotrofia líquida). Durante o período chuvoso, a saturação de aragonita frequentemente ficou abaixo do nível ótimo para calcificação (<3), podendo comprometer a formação de carbonato de cálcio. No contexto atual, com o aumento das emissões antropogênicas de CO2 e de temperatura devido às mudanças climáticas, o potencial de sumidouro de CO2 dos oceanos e dos recifes está sendo prejudicada, com possível inversão destes como fonte de CO2 a longo prazo. Os Parrachos de Rio do Fogo apresentam forte variação sazonal no metabolismo recifal, modulada por processos físicos e biogeoquímicos. O aumento da temperatura e do aporte continental tende a favorecer a heterotrofia líquida e reduzir o potencial de sumidouro de CO₂, destacando a vulnerabilidade desses recifes frente às mudanças climáticas globais.