Padrões de diversidade de formigas nas escalas local, regional e global
Biogeografia; Comunidades; Perturbações; Perda de habitat; Riqueza de árvores.
Os padrões de biodiversidade são afetados por fatores como o clima, distúrbios humanos e interações bióticas, que operam em diferentes escalas espaciais. Compreender os padrões de diversidade e seus determinantes é essencial para realizar esforços eficazes de conservação. No entanto, muitas regiões e grupos taxonômicos são frequentemente ignorados devido à falta de dados adequados. Em especial, os invertebrados e as regiões áridas/semiáridas recebem menos atenção. Por exemplo, as formigas desempenham um papel fundamental no funcionamento do ecossistema, mas há lacunas de conhecimento em relação aos seus padrões globais de biodiversidade, sua resposta a distúrbios antrópicos e sua relação com a composição e diversidade das plantas. Da mesma forma, a Caatinga, uma floresta seca rica em espécies, carece de conhecimentos claros sobre seus padrões de diversidade animal. Deste modo, nos propomos a investigar na tese os determinantes da diversidade de formigas em três distintas escalas, (i) global, testando o efeito do clima e topografia, (ii) regional, testando o efeito das perturbações antropogênicas e (iii) local, testando o efeito da riqueza de espécies arbóreas e suas capacidades de facilitação. Além disso, (iv) examinamos os determinantes da diversidade animal na Caatinga e a correlação da distribuição da diversidade entre diferentes táxons animais. No primeiro capítulo testamos a força relativa dos gradientes abióticos na determinação dos padrões espaciais de diversidade das formigas no mundo e entre domínios biogeográficos. Utilizamos regressões múltiplas para relacionar dados globais de diversidade de formigas com dados climáticos e topográficos. Nossas descobertas sugerem que a diversidade de formigas é maior em regiões tropicais, especialmente em áreas com maior precipitação anual e temperatura média mais alta. Entretanto, os determinantes abióticos entre dos reinos biogeográficos variaram muito, o que desafia a generalidade do padrão global. Isso destaca a importância de considerar os contextos históricos e ecológicos regionais ao investigar os padrões de biodiversidade. No segundo capítulo testamos a influência de distúrbios antropogênicos crônicos (por exemplo, remoção de lenha e pastejo) e da perda de habitat sobre a riqueza de espécies de formigas (total, espécies especialistas e de generalistas). Em seguida, usamos regressões múltiplas para examinar o impacto dos vetores de perturbação nos padrões de diversidade das formigas. Descobrimos que a perda de habitat reduz a riqueza de espécies em todos os níveis, incluindo espécies especialistas e generalistas, enquanto a perturbação crônica tem um impacto particularmente forte sobre as espécies no geral e sobre as espécies especialistas. Nossos achados destacam que é necessário a inclusão dos vetores de perturbação crônica para mensurar nosso real impacto sobre a biodiversidade. O terceiro capítulo examina o impacto da riqueza de arvores, facilitação promovida por árvores e a presença de plantas com nectários extraflorais nos padrões de diversidade de formigas, incluindo riqueza de espécies, diversidade filogenética e abundância. Coletamos as formigas em todas as 155 parcelas do projeto BrazilDry, um experimento de biodiversidade estabelecido na Floresta Nacional do Açu. As parcelas contêm uma, duas, quatro, oito e 16 espécies de plantas com composições variadas e um gradiente de facilitação. Nossos resultados sugerem que a diversidade de plantas é o principal mecanismo responsável pela riqueza e diversidade filogenética das formigas no experimento BrazilDry. Possivelmente o resultado provem de um efeito de baixo para cima na cadeia trófica, em que as plantas fornecem recursos essenciais para as formigas, elevando sua diversidade. No capítulo quatro, examinamos a correlação entre a distribuição da diversidade animal na Caatinga entre cinco grupos taxonômicos: aves, répteis, anfíbios, mamíferos e formigas. Também testamos a influência de fatores abióticos na distribuição da diversidade dentro desses grupos. Para isso, recuperamos mapas de distribuição de espécies e variáveis climáticas de bancos de dados on-line. As correlações de Pearson foram usadas para testar a sobreposição da diversidade entre os grupos, e os modelos lineares múltiplos foram usados para testar a importância relativa dos fatores abióticos na organização da diversidade desses grupos. Nossos achados indicam que a biodiversidade animal na Caatinga se sobrepõe em grande parte, mas a resposta às condições abióticas varia de acordo com o grupo taxonômico analisado. Com a tese, preenchemos lacunas importantes sobre a diversidade, distribuição, determinantes abióticos e repostas a riqueza de árvores das formigas. Adicionalmente, descrevemos quais os determinantes abióticos e o grau de sobreposição da diversidade animal na Caatinga.