Morfologia e função ecológica de lenticelas em espécies arbóreas da Caatinga
Camada de oclusão; anatomia do caule; periderme; mudanças sazonais; anatomia funcional; felogênio;crescimento secundário;anatomia da casca;anatomia da lenticela
As lenticelas são estruturas semelhantes a poros, comumente originadas na cavidade subestomática através de uma atividade meristemática mais intensa do felogênio. Ao contrário das células da cortiça, compactamente arranjadas e de paredes suberificadas, as lenticelas são constituídas de células de formato arredondado e paredes delicadas, conferindo a presença de amplos espaços intercelulares, os quais estão diretamente relacionados às funções conhecidas para essas estruturas. As lenticelas estão presentes em uma variedade órgãos e espécies de plantas terrestres, apresentando adaptações distintas que auxiliam o estabelecimento dos indivíduos diante de mudanças nas condições ambientais experienciadas. Apesar das lenticelas terem sido descritas há dois séculos, existem muitas lacunas de conhecimento envolvendo essas estruturas. Essa dissertação busca esclarecer a importância das lenticelas e entender como estas estruturas ocorrem em espécies de plantas de ambientes semiáridos. O primeiro capítulo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura sobre as lenticelas a fim de se entender como as diferentes abordagens e estudos vêm se desenvolvendo ao longo do tempo, procurando também mapear campos específicos de conhecimento que ainda precisam ser preenchidos. Especificamente, buscamos: 1) Descrever como se dá a ocorrência de lenticelas nos diferentes grupos filogenéticos das plantas; 2) Descrever em quais estruturas das plantas as lenticelas podem ser encontradas; e 3) Descrever as principais funções que são conferidas às lenticelas. Para isso, fizemos a revisão da literatura específica por meio de buscas em repositórios científicos, leituras e referências cruzadas. Constatamos que as lenticelas não são exclusivas de caules e raízes, ocorrendo em diversos órgãos, estando presentes em espécies de “pteridófitas” (monilófitas), gimnospermas e angiospermas. Além de trocas gasosas, as lenticelas desempenham outras funções, como absorção de água, servindo também como pontos de transpiração. Essas estruturas podem responder aos estressores ambientais, apresentando adaptações ao meio. Embora o conhecimento sobre lenticelas tenha crescido ao longo dos anos, ainda há lacunas a serem preenchidas, principalmente em climas áridos e semiáridos, visto que a maioria dos estudos publicados até os dias atuais tratam de espécies de plantas de ambientes alagados e úmidos. No segundo capítulo, buscamos descrever a morfologia das lenticelas e caule de 14 espécies lenhosas da Caatinga, de maneira a retratar possíveis padrões morfológicos e separá-las em tipos funcionais. Foram coletadas amostras de indivíduos para cada espécie e preparadas lâminas histológicas para descrição anatômica. Adicionalmente, as lenticelas foram analisadas através de microscopia eletrônica de varredura e material fresco sob estereomicroscópio para descrições da morfologia externa. Encontramos uma diferença entre as características morfológicas das lenticelas, assim como da morfologia geral do caule. Também observamos dois padrões de alternância estrutural e construção de camadas de oclusão nas lenticelas, o que indica ao menos duas possíveis estratégias adotadas pelas espécies adaptadas às condições semiáridas, sugerindo que as lenticelas de espécies vegetais podem evoluir características distintas em resposta à seca. A presença de camadas de oclusão pode favorecer as espécies em florestas tropicais sazonalmente secas, reduzindo as taxas de transpiração e ainda permitindo trocas gasosas na ausência de folhas em espécies decíduas nas estações secas.