Mais do que agregados de espécies: importância das facetas da biodiversidade em contextos naturais e antrópicos para a ecologia e a pesca marinha
Dimensões da Biodiversidade; Mudanças antrópicas ; atributos funcionais; espécies; funções ecológicas
As facetas da biodiversidade (i.e., taxonômica, funcional e filogenética), são essenciais para averiguar o funcionamento e as mudanças nos ecossistemas. Os objetivos dessa tese foram: 1) entender como os estudos com as facetas se desenvolveram na Ecologia; 2) como as facetas se relacionam entre si e respondem à diferentes formas de impactos antrópicos; 3) modificando seus padrões ao longo do tempo. No capítulo 1, avaliamos o desenvolvimento dos estudos voltados para a diversidade funcional e filogenética, na Ecologia. Observou-se predominância dos ambientes terrestres com plantas e incipiência para ambientes aquáticos e organismos vertebrados, tanto nas regiões temperadas quanto nas tropicais. Sendo essa área a que mais se desenvolveu na Ecologia nos últimos anos. No segundo capítulo, investigamos os efeitos da pesca comercial (i.e., artesanal e industrial) sobre a composição taxonômica e funcional do pescado brasileiro. Foram adotados sete atributos com importância ecológica e para a pesca, para estimar a riqueza, divergência e equitabilidade funcional do pescado. Como variáveis descritoras da pesca, foram utilizadas as capturas anuais totais e a diversidade de métodos da pesca industrial. Também foram utilizadas riqueza e equitabilidade taxonômica como preditoras da diversidade funcional e como respostas à pesca. Por meio de modelos de equações estruturais (SEMs), foram verificados diferentes tipos de associação entre todas as variáveis preditoras e de resposta. Assim, observamos que na pesca artesanal, a variável mais sensível a diminuições promovidas pelo aumento das capturas e aumentos da equitabilidade ou riqueza taxonômica, foi a divergência funcional. O que indica que a captura de um maior número de espécies nessa modalidade, pode estar provocando obtenção de espécies mais próximas entre si, que tem passado a dominar a composição, reduzindo a diversidade funcional do pescado. Por outro lado, as capturas também aumentaram a equitabilidade funcional, tornando essa a variável mais positivamente associada à pesca. Enquanto a riqueza funcional não teve relação direta com a pesca, mas respondeu fortemente à riqueza taxonômica. Na pesca industrial, a diversidade de métodos proporcionou aumentos da divergência e equitabilidade funcional, enquanto as capturas atuaram em sentido oposto, evidenciando que o aumento das capturas tende a resultar em menor ocorrência de espécies dissimilares entre si, de forma semelhante ao que ocorre na pesca artesanal. Enquanto a diversidade de métodos, amplia os efeitos da pesca, resultando na obtenção de um pescado mais diverso e menos dominante. No capítulo 3, foi realizada uma análise das diversidades beta-funcional e taxonômica do pescado marinho brasileiro, a fim de identificar o fenômeno da homogeneização na pesca marinha brasileira, através da tendência em se capturar sempre as mesmas características ou espécies dentro de cada modalidade de pesca, independente da localidade. Como resultados, observamos que a pesca industrial apresentou maior diversidade beta-taxonômica-total que a artesanal, com menor riqueza e maior substituição beta-taxonômica, evidenciando um sintoma inesperado de homogeneidade para a pesca de subsistência. A beta-funcional total foi maior para a pesca artesanal, assim como a riqueza beta-funcional, evidenciando heterogeneidade para essa pesca. As substituições beta-funcionais foram mais presentes na pesca industrial, confirmando a hipótese da homogeneização do pescado brasileiro.