Dinâmica de assembleias de peixes em poças temporárias de floresta de mangue.
sazonalidade, diversidade, gradiente, ecologia de comunidades.
Florestas intertidais de mangue desempenham papéis importantes para a persistência de espécies de peixes, fornecendo alimento e abrigo contra predadores para peixes marinhos e estuarinos de pequeno porte. Apesar do grande avanço no conhecimento científico de sistemas estuarinos, incluindo manguezais, nas Américas nas últimas décadas, pouco de sabe sobre a dinâmica de comunidades de peixes nesses ambientes. Dessa forma, o presente trabalho busca entender como as espécies de peixes se distribuem dentro da floresta de manguezal em ambiente de poças ao longo do estuário (dinâmica espacial) e ao longo de um ciclo sazonal (dinâmica temporal). Para isso, o estudo trabalhou em cima da seguinte pergunta: Quais variáveis são importantes na formação das assembleias de peixes em poças de manguezais? Expedições de campo ocorreram bimestralmente entre novembro de 2017 e setembro de 2018 no manguezal do rio Ceará-Mirim (município de Extremoz, Rio Grande do Norte) contemplando pontos altos (início do manguezal), médios e baixos (próximos à foz). Estabelecemos 17 parcelas de 10m x 10m distribuídas ao longo do estuário, que foram utilizadas como unidades amostrais. Nelas coletamos peixes com peneiras com um esforço amostral padronizado. Quando possível os peixes foram identificados in situ, os demais fixados em formol para identificação em laboratório. Variáveis limnológicas (pH, salinidade e temperatura da água) foram medidas em campo usando sensores portáteis. Para a análise, consideramos os parâmetros ambientais e a posição geográfica das parcelas como variáveis explicativas. As variáveis limnológicas indicam a tolerância fisiológica das espécies enquanto a posição geográfica seria um proxy de acessibilidade para potenciais predadores (variável biológica). As variáveis resposta foram os parâmetros de comunidade (riqueza, diversidade, abundância e composição). 1189 indivíduos pertencentes à 10 espécies, sendo uma pertencente à família Cynolebiidae (Kryptolebias hermaphroditus [52%]), uma Poecilidae (Poecilia vivipara [24%]), quatro Gobiidae (Ctenogobius smaragdus [11%], Ctenogobius shufeldti [2%], Ctenogobius boleosoma [2%] e Evorthodus lyricus [3%]) e quatro Eleotridae (Dormitator maculatus [<1%], Eleotris pisonis [1%], Guavina guavina [4%] e Erotelis smaragdus [<1%]). O gradiente espacial e a sazonalidade se mostraram importantes fontes de variação nos parâmetros ambientais. Regressão linear indicou que o pH, independentemente do tempo, aumentou de forma significativa com a proximidade da foz. A salinidade também sofreu forte influência sazonal, diminuindo no período chuvoso. A construção de GLMs indicaram que a abundância total de peixes e os índices de diversidade (índice de Shannon-Weaver e Simpson) aumentaram significativamente no período chuvoso. Encontramos evidências de que as assembleias são fortemente moduladas pela sazonalidade e pela proximidade com o mar, dendo possivelmente reguladas por interações promovidas pela acessibilidade a esses ambientes.