Impactos socioambientais e sobre a fauna associados à instalação de empreendimentos de energias renováveis em áreas do Nordeste brasileiro
Energia renovável; Mortalidade; Herpetofauna.
A partir da Revolução Industrial ocorreu uma virada paradigmática com a inserção de fontes fósseis de energia, como carvão mineral, petróleo e gás natural. Esse modelo produtivista resultou no esgotamento de recursos e na degradação dos ecossistemas, com interferências diretas nas alterações do clima. A transição energética aparece como uma resposta estratégica e urgente frente aos desafios climáticos atuais, promovendo a substituição gradual de fontes fósseis por alternativas limpas e renováveis. Nesse contexto, este estudo investigou os impactos ambientais decorrentes da instalação de empreendimentos de energia eólica e solar no Semiárido do Rio Grande do Norte sobre a fauna de vertebrados silvestres. Utilizando dados de programas de resgate e afugentamento realizados entre 2020 e 2025 em cinco empreendimentos (quatro eólicos e um solar), foram analisados 29.099 registros faunísticos. As ações de resgate ocorreram em fases críticas das obras, como supressão vegetal e terraplanagem, e envolveram profissionais especializados, com posterior destinação dos animais vivos às áreas de soltura e animais mortos para as Coleções Zoológicas da UFRN, inclusive a Herpetológica. As taxas de óbito de cada espécie ou grupo de vertebrados foram utilizadas como métricas comparativas, e avaliadas através de testes de Kruskal-Wallis e post-hoc de Student-Newman-Keuls. Os répteis corresponderam à maioria dos registros e apresentaram a maior taxa de mortalidade (24,6%) entre os vertebrados, seguidos por mamíferos (11,2%), anfíbios (6,1%) e aves (1,6%). Entre os répteis, as espécies fossoriais foram significativamente mais afetadas. Esses resultados revelam tensões entre o discurso da energia limpa e seus efeitos ecológicos locais, destacando a necessidade de aprimoramento dos programas ambientais durante as fases iniciais dos empreendimentos renováveis, especialmente em áreas de alta sensibilidade biológica. Apesar dos números expressivos de geração e da retórica da “energia limpa”, surgem questões complexas que desafiam a ideia de sustentabilidade, especialmente quando se considera os impactos socioambientais provocados pela instalação de grandes empreendimentos em regiões vulneráveis.