Aconselhamento em HIV/Aids: ações e reflexões dos profissionais do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA).
Aconselhamento, HIV, reflexão, educação, profissionais de saúde.
O aconselhamento em HIV/Aids consiste numa estratégia de prevenção pela qual é possível aumentar o diagnóstico do HIV e iniciar o mais precoce o tratamento. O aconselhamento tem como pilares o apoio emocional, apoio educativo e avaliação de riscos que visam à adoção de práticas seguras e responsabilidade do sujeito enquanto agente da sua saúde. O aconselhamento reforça os meios de prevenção e tratamento, atuando tanto na atenção primária quanto na secundária. Para que esses resultados sejam alcançados torna-se necessário que os profissionais de saúde compreendam o aconselhamento como um momento ímpar, por estimular a reflexão crítica do usuário no tocante ao seu papel enquanto sujeito ativo nesse processo. Este estudo teve como objetivo analisar o aconselhamento em HIV/Aids realizado pelos profissionais do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) enquanto momento de reflexão e educação. Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa e delineamento de investigação crítica reflexiva, com base nos princípios da Ciência Ação. Participaram desta pesquisa todos os profissionais, totalizando oito, que atuam no aconselhamento no CTA de João Pessoa/PB. Os dados foram coletados por meio da observação não-participativa e entrevista semi-estruturada com enfoque crítico reflexivo e analisados segundo os aportes da metodologia crítico reflexiva e discutidos à luz da pedagogia de Paulo Freire e autores pertinentes. Observou-se que a maioria dos profissionais compreende a filosofia de trabalho do CTA como sendo o diagnóstico e a prevenção associada à utilização e demonstração do preservativo. Contudo, ao observarmos as suas ações durante os aconselhamentos essas idéias não se concretizam. Temas educativos não foram abordados e o preservativo não foi oferecido em nenhum dos atendimentos. As ações centraram-se no acolhimento de informações e no preenchimento dos formulários necessários ao atendimento, com diálogo estanque e com pouca abertura para o usuário expor, ou completar, os seus pensamentos e necessidades. Os profissionais citaram as condições facilitadoras para o aconselhamento, a interação da equipe e estrutura física. Focalizaram as dificuldades do baixo grau de instrução dos usuários, a demanda de atendimentos e outros aspectos da organização de serviço, e o descompromisso dos aconselhadores quanto às faltas e atrasos. Ao refletir sobre as ações observadas nos aconselhamentos, à maioria dos profissionais reconheceu que precisam modificar algumas ações do atendimento para incorporação dos princípios educativos na realização de uma prevenção mais ampla e se mostraram dispostos a trabalhar nessa perspectiva. Conclui-se que, embora os profissionais expressem idéias condizentes com os propósitos do CTA, estas são limitadas enquanto apropriação do significado de prevenção em HIV/Aids. Na medida em que expressam uma compreensão e agem de forma diferente na realização das ações durante o aconselhamento, demonstram a desarticulação entre as teorias em uso e as teorias propostas, conforme os aportes da teoria da ciência-ação. O aconselhamento enquanto prática educativa não se concretiza nos aconselhamentos e a orientação para uma reflexão não é oportunizada no atendimento. Esses achados sugerem a necessidade de inserir o processo de reflexão na realização das ações de aconselhamento, de forma que estas sejam pautadas na prática reflexiva, objetivando a transformação do seu modo de pensar e agir para uma perspectiva educacional com vistas a uma assistência mais democrática e integral.