Banca de DEFESA: SERGIO ARTHURO MOTA ROLIM

Uma banca de DEFESA de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: SERGIO ARTHURO MOTA ROLIM
DATA: 19/06/2012
HORA: 14:00
LOCAL: Auditório
TÍTULO:

Aspectos sócio-demográficos, cognitivo-comportamentais e neuro-psicológicos do sonho lúcido


PALAVRAS-CHAVES:

sonho lúcido, sono REM, sonhos, pesadelos, auto-consciência


PÁGINAS: 100
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

O sonho lúcido (SL) é um estado mental no qual o sujeito está consciente de estar sonhando durante o sonho. A prevalência do SL em Europeus, Norte-Americanos e Asiáticos é bastante variável (entre 26 e 92%) (Stepansky et al., 1998; Erlacher & Schredl, 2011; Yu, 2008) e em Latino-Americanos ainda não foi investigada. Além disso, as bases neurais do SL permanecem controversas. Diferentes estudos observaram que a potência das frequências alfa (Tyson et al., 1984), beta parietal (Holzinger et al., 2006) e gama frontal (Voss et al., 2009) estava aumentada no SL em relação ao não lúcido.

            Dessa forma, para investigar a questão epidemiológica (Estudo 1), elaboramos um questionário online sobre sonhos que foi respondido por 3427 voluntários. Em nossa amostra, 56% são mulheres, 24% são homens e 20% não responderam o gênero (mediana de idade = 25 anos). Um total de 76,5% dos indivíduos refere que lembra dos sonhos pelo menos uma vez por semana. Cerca de dois terços dos sujeitos observam o sonho em primeira pessoa, ou seja, vendo o sonho da própria perspectiva e não como mais um dos personagens do sonho. Os elementos mais comuns nos sonhos são movimentos/ações (93,3%), pessoas conhecidas (92,9%), sons/vozes (78,5%) e imagens coloridas (76,3%). O conteúdo onírico se relaciona principalmente com planos para o dia seguinte (37,8%) e memórias do dia anterior (13,8%). Os pesadelos apresentam principalmente ansiedade/medo (65,5%), ser perseguido (48,5%) e sensações desagradáveis que não envolvem dor (47,6%). Assim, sonhos e pesadelos podem ser evolutivamente entendidos como uma simulação das situações frequentes que acontecem na vida e que se relacionam com a nossa integridade social, psicológica e biológica.

         Observamos também que a maioria dos indivíduos (77,2%) relata ter tido pelo menos um SL, tendo experimentado na sua maior parte até 10 episódios (44,9%). A frequência do SL foi fracamente correlacionada com a frequência de lembrança dos sonhos (r=0,20, p<0,001) e foi também maior em homens (χ2=10,2, p= 0,001). O controle do SL é raro (29,7%) e inversamente correlacionado com o tempo de duração do SL (r=-0,38, p<0,001), que normalmente é curto - para 48,5% dos sujeitos o SL dura menos que 1 minuto. A ocorrência do SL é principalmente facilitada pela possibilidade de dormir sem hora para acordar (38,3%) que aumenta a chance de ter sono REM (SREM), e estresse (30,1%) que aumenta também as transições do SREM para a vigília. Como conclusão, nossos resultados indicam que o SL é uma experiência relativamente comum (mas não recorrente), geralmente fugaz e difícil de controlar, o que sugere que o SL é um estágio intermediário, incompleto e estacionário (ou fase de transição) entre o SREM e a vigília. Além disso, apesar das populações Europeias, Norte-Americanas e Asiáticas terem uma prevalência de SL bastante variável, nossos dados de uma amostra de Latino-Americanos fortalecem a noção de que o SL é um fenômeno universal da espécie humana.           

Para investigar mais detalhadamente as bases neurais do SL (Estudo 2), realizamos registros de sono em 32 sujeitos que não apresentam SL de forma frequente, e investigamos 6 sujeitos que apresentam SL recorrentemente. A primeira amostra foi submetida a duas técnicas cognitivo-comportamentais para induzir o SL: sugestão pré-sono (n = 8) e incubação de estímulos do ambiente (pulsos de luz) no sonho durante o SREM (n = 8). Um grupo controle não foi submetido a nenhuma das duas técnicas (n = 16). Os resultados indicam que é muito difícil induzir SL em laboratório, uma vez que conseguimos obter apenas um SL em um sujeito, que era do grupo em que aplicamos a técnica de sugestão pré-sono. O sinal eletroencefalográfico deste voluntário apresentou pulsos de ritmo alfa (7-14Hz) anteriores ao SL, de forma breve (aproximadamente 3s), sem alteração significativa do tônus muscular e independente da presença de movimentos oculares rápidos. O SL desse sujeito apresentou também uma maior potência de alfa (7-14Hz) na região parieto-ocipital, diferentemente do resultado observado por Tyson et al. (1984), que encontraram um aumento na frequência alfa, porém de forma não-localizada, ou seja, em média para todos os canais. Além disso, observamos também um aumento de gama (20-50Hz) na região temporo-parietal direita, como encontrado por Holzinger et al. (2006). Entretanto, esses autores observaram um aumento na faixa de frequência beta (e não em gama). Nos 6 indivíduos que frequentemente têm SL, este estado apresentou em média um aumento de potência em gama alto (50-100Hz) na região frontal em comparação com o SREM não-lúcido, como observado por Voss et al. (2009); no entanto, isso não foi consistente entre todos os 6 voluntários e pode ser devido a uma contaminação decorrente dos movimentos oculares.

Como conclusão, nossos resultados preliminares sugerem que o SL apresenta diferentes características neuro-psico-fisiológicas dos estados típicos de SREM e vigília: 1) um aumento da potência da oscilação alfa em regiões parieto-ocipitais pode estar correlacionado a uma maior vividez visual do SL em comparação com o sonho não-lúcido;

2) os pulsos de alfa anteriores ao SL poderiam ser micro-despertares, que facilitariam o contato do cérebro durante o sono com o meio externo, favorecendo a ocorrência do SL e fortalecendo a noção de que o SL seria um estado intermediário entre o sono e a vigília; 3) dado que as regiões temporo-parietal direita e frontal estão relacionadas com processos de formação da auto-consciência e imagem corporal, sugerimos que a ativação destas regiões durante o sono pode ser o mecanismo neurobiológico subjacente ao SL.


MEMBROS DA BANCA:
Externo ao Programa - 1728817 - CLAUDIO MARCOS TEIXEIRA DE QUEIROZ
Externo ao Programa - 1243905 - DRAULIO BARROS DE ARAUJO
Externo à Instituição - FERNANDO MAZZILLI LOUZADA - UFPR
Externo à Instituição - LUCIANO RIBEIRO PINTO JÚNIOR - UNIFESP
Presidente - 1660044 - SIDARTA TOLLENDAL GOMES RIBEIRO
Notícia cadastrada em: 14/06/2012 15:10
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