Complexidade ambiental: Efeitos na aprendizagem e agressividade do peixe-donzela (Stegastes fuscus)
Aprendizagem espaço-temporal; Aquecimento global; Enriquecimento ambiental; Peixe-donzela; Agressividade
O peixe donzela (Stegastes fuscus) é um peixe recifal endêmico do Brasil que ocorre desde a costa do RN até SC. Essa espécie apresenta forte comportamento agonístico ao defender seu território contra animais intra e interespecíficos que transitem ou que compitam por seus recursos, sendo considerada uma “espécie-chave” nos recifes em que ocorre. S. fuscus exerce forte papel na regulação das relações agonísticas entre as diversas espécies que compõem a comunidade recifal. Devido ao alto impacto antropogênico os ambientes recifais tem sido modificados em termos de temperatura, pH, oxigênio e complexidade estrutural. Pesquisas que relacionem mudanças na temperatura e estrutura do habitat dos animais, com alterações comportamentais e de aprendizagem podem auxiliar na compreensão das consequências ecológicas desses impactos e sugerir alternativas mais eficazes de conservação. Este estudo pretendeu compreender melhor como as mudanças climáticas globais podem influenciar mudanças na agressividade, territorialidade e aprendizagem de S. fuscus. O objetivo do trabalho foi testar se a complexidade ambiental e a temperatura da água influenciam na aprendizagem e agressividade de S. fuscus. Todos os animais foram coletados na praia de Pirambúzios, transferidos para o laboratório e colocados em aquários estoque. Para o experimento 1, os animais foram divididos em: Grupo “EE” (n=11) habitat constituído por um aquário com fundo e paredes cobertas com adesivo de substrato de cascalho, abrigo e planta artificial e grupo “BE” (n=09) habitat constituído por um aquário sem itens adicionais. Após 34 dias nessas condições, foram quantificados: tempo de permanência e latência para atingir área alvo. Para o experimento 2, além dos níveis de complexidade, houve também um regime de temperatura, da seguinte forma: Grupo “28B” (n=09) habitat não-enriquecido a 28ºC, grupo “28C” (n=12), habitat enriquecido a 28ºC, grupo “34B” (n=09) habitat não-enriquecido a 34ºC e grupo “34C” (n=06) habitat enriquecido a 34ºC. Após um período de 30 dias sob essas condições, os animais foram submetidos ao teste do espelho, sendo filmados antes (5min) e após (5min) de exposição ao espelho e sendo verificadas a velocidade de locomoção, tempo em freezing, tempo de permanência nos quadrantes e frequência de ocorrência de displays agonísticos nos dois momentos. Nossos resultados sugerem que, em um cenário futuro, S. fuscus terão maiores custos energéticos ocasionados não só pelo aumento da temperatura, mas também por mudanças fisiológicas e em seu padrão comportamental.