Influência da exposição neonatal à fluoxetina sobre o comportamento e expressão neuroquímica em ratos wistar machos e fêmeas juvenis e adultos
Serotonina; desenvolvimento do SNC; memória; ansiedade; interneurônios inibitórios.
Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS) são amplamente utilizados no tratamento de depressão e ansiedade em vários estágios da vida do indivíduo, inclusive durante a gravidez ou lactação. Nessa circunstância, com o feto in utero ou em amamentação, o mesmo será exposto a influência da hiperestimulação serotonérgica capaz de desorganizar o desenvolvimento morfofuncional do SNC. A modulação do circuito serotonérgico no cérebro em desenvolvimento pode alterar a organização e formação de diferentes redes neurais específicas e repercutir na expressão comportamental do indivíduo. Neste sentido, utilizamos o ISRS – fluoxetina (dose: 10mg/kg)– no período de desenvolvimento PND7-PND21, para investigar possíveis alterações persistentes na neuroquímica e no comportamento de ratos machos e fêmeas durante as idades pós-nascimento de 45 (PND45) e 90 dias (PND90). Outros três grupos experimentais foram utilizados como controle da administração farmacológica, são eles: Naive (animais não-manipulados), Sham (animais residentes nas gaiolas de tratamento mas sem manipulação) e Veh (animais residentes nas gaiolas de tratamento que recebiam injeção de água destilada). Nosso trabalho reúne um conjunto de dados comportamentais complementares e também inéditos relacionados a avaliação do comportamento mnemônico, da ansiedade e tipo-depressivo nos animais nessas diferentes idades e em ambos os sexos. Aqui observamos aumento na ansiedade (avaliada no teste de campo aberto), alterações de memória de curto prazo (através dos paradigmas de reconhecimento de objetos e alternação espontânea), bem como manifestação do comportamento tipo-depressivo (usando os testes de preferência de sacarose e natação forçada) na prole em idade de 45 dias. Enquanto que na idade adulta (PND90) foi observada (através dos paradigmas comportamentais usados na avaliação da prole juvenil) redução nos níveis de ansiedade, manutenção das alterações de memória de curto prazo, bem como atenuação do perfil tipo-depressivo. Em ambas idades foram observadas redução no número de neurônios parvalbumina-positivos, contudo somente animais em idade PND45 tratados com fluoxetina apresentaram redução significativa e ainda quando comparados com os grupos Naive e Sham, mas não ao grupo Veh. Por isso, mais estudos são necessários para investigar os efeitos persistentes da serotonina sobre a maturação, proliferação e migração de interneuronios para as regiões corticais. Os animais expostos ao ISRS apresentam maior traço de alterações nos comportamentos de ansiedade e tipo-depressivo. Nosso trabalho expõe alterações mnemônicas decorrentes da exposição previa a fluoxetina, sugerindo alterações persistentes no circuito cortico-limbico. Estes achados sugerem que a modulação do circuito serotonérgico durante períodos críticos do desenvolvimento do sistema nervoso central pode alterar a organização dos diferentes circuitos neuroquímicos e induzir alterações comportamentais, as quais podem repercutir para o surgimento de distúrbios neuropsiquiátricos.