Variações No Repertório Acústico de Botos-cinza (Sotalia guianensis) de Baía Formosa e Pipa, Litoral Sul do Rio Grande do Norte, Brasil
Variações geográficas, comportamento social, comunicação acústica, assobios, odontocetos.
Os ecossistemas são diversos e apresentam muitas variações em estruturas geográficas e bióticas. Para garantir sua sobrevivência e sucesso reprodutivo, uma série de animais desenvolveram mecanismos adaptativos, ao longo de suas histórias evolutivas, que proporcionam um aumento da eficiência na comunicação e consequente transmissão de informações, tanto de interações intra como interespecíficas. Em espécies que utilizam a comunicação acústica, variações sonoras, causadas por ruídos antropogênicos ou naturais, e geográficas podem moldar a produção de som, provocando alterações acústicas entre indivíduos da mesma espécie, ou de espécies diferentes. Para os odontocetos, um dos principais usos da comunicação acústica é na mediação de interações sociais (Tyack, 1999). Uma vez que o som se propaga facilmente pela água e a perda por absorção é menor na água do que no ar, sinais acústicos subaquáticos evoluíram, sendo considerado o meio de transmissão de informação mais usado pelos mamíferos aquáticos (Dudzinski, 2008). O primeiro estudo publicado em revista indexada para a espécie de Sotalia guianensis (Cetacea: Delphinidae), identificou quatro tipos de sons: assobios, gritos, estalidos e gargarejos (Monteiro-Filho & Monteiro, 2001; Steinke, 2013). Os estalidos (ou cliques) são sons pulsados de banda larga (Borges, 2013) e são utilizados para navegação e detecção de presas, enquanto assobios (sons puros tonais de banda estreita) e gritos estão relacionados com a comunicação social e o reconhecimento de indivíduos (Riesch e Deecke, 2011). Já os gargarejos são os sons produzidos pelos filhotes (Monteiro-Filho & Monteiro, 2001; Steinke, 2013). Muitos estudos recentes mostraram a existência de variações na estrutura acústica dos assobios (Rossi-Santos, 2006), evidenciando que algumas espécies, (grupos separados geograficamente) podem ser identificadas por diferenças nas caracterísiticas físicas dos sons produzidos por elas (Bazúa-Durán, 2004). Tais diferenças na produção de som podem levar a uma variação de repertório acústico, de cada indivíduo ou de um grupo social inteiro, devido a uma série de diferenças, que podem ser: geográficas, de disponibilidade de alimento, presença ou ausência de ruídos, entre outras. Há, entretanto, um desentendimento sobre a distinção entre os tipos de variações acústicas que ocorrem nas diversas espécies animais que utilizam a comunicação sonora para suas interações diárias. Desse modo, ao estudar o repertório acústico de um animal ou grupo social é importante categorizar o comportamento observado de maneira correta. Ao analisar as variações nos sons produzidos por populações e grupos sociais de animais, pode-se estudar os mecanismos que originaram tais mudanças comportamentais acústicas (Deecke, 2000) e por que elas surgiram em um determinado local e não em outro. Variações dentre espécies refletem suas relações sociais, a estrutura populacional, a heterogeneidade ambiental (de acordo com a distância dos indivíduos de uma espécie) e o estado comportamental dos animais no momento estudado (Rendell, 1999). Em espécies que mantêm relações sociais em grupos estáveis, as vocalizações variam muito entre os grupos; naquelas onde as relações sociais focam nas relações individuais, as vocalizações variam de acordo com os indivíduos. Já nas espécies que não possuem nenhum vínculo social estável, as vocalizações variam entre populações (Rendell, 1999). Um estudo feito por Paro (2011) com indivíduos da espécie Sotalia guinensis, com base em técnicas de foto-identificação, mostrou que tais indivíduos, que habitam o litoral sul do Rio Grande do Norte, estão possivelmente divididos em duas comunidades. Em Tabatinga, Lagoa de Guaraíras e Pipa está uma comunidade, com 105 indivíduos, enquanto a outra está em Baía Formosa, com 112 indivíduos. As distâncias entre Tabatinga e Baía Formosa, partindo de Pipa, são semelhantes e de aproximadamente 20 km. Não parece haver nenhuma barreira física aparente que previna os animais de se deslocarem entre estas áreas, entretanto a área após o Rio Cunhaú parece ser divisora destas duas regiões (Paro, 2010). Além de Paro (2010), outros estudos foram feitos com botos-cinza nesta região, contudo poucos envolveram o comportamento acústico (Leao, 2010), o que mostra uma carência de pesquisas sobre o assunto, principalmente com os botoscinza do litoral do Rio Grande do Norte, para ampliar os conhecimentos sobre essa espécie no local, visando sua preservação e conservação. Tendo isso em vista, este projeto tem como objetivo principal verificar possíveis variações acústicas comportamentais de indivíduos das regiões analisadas anteriormente por Paro (2010), para explicar a ausência de intercâmbio de botos-cinza entre Pipa e Baía Formosa.