Efeitos dos esteroides anabólicos androgênicos sobre a memória de ratos
anabolizantes; propionato de testosterona; memória de reconhecimento; esquiva discriminativa.
A utilização e a busca por substâncias que aumentem a masculinidade, a força e a potência não é recente. Com o tempo, essa busca auxiliou no direcionamento de pesquisas na área, levando a descoberta do principal hormônio masculino – a testosterona. A partir desse momento, inúmeros compostos foram sintetizados com o intuito de mimetizar os efeitos deste hormônio, aos quais hoje chamamos genericamente de Esteroides Anabólicos Androgênicos (EAA). A princípio, esses EAA foram sendo produzidos com propósitos terapêuticos. No entanto, iniciou-se o uso crescente desses compostos com outras finalidades, principalmente para a melhoria de desempenho em atletas. Além disso, estudos recentes tem demonstrado que os EAA estão sendo cada vez mais utilizados por não atletas, por indivíduos que buscam um corpo esteticamente perfeito. Paralelamente, o crescente abuso dos EAA com finalidades não clínicas pode promover uma série de alterações fisiológicas, tais como problemas cardíacos, hepáticos, respiratórios e também psicológicos como alterações de humor, nos níveis de ansiedade e na agressividade. A exposição a doses suprafisiológicas de EAA está associada com alterações comportamentais, contudo, pouco se sabe sobre os efeitos dos EAAs sobre as funções cognitivas. Neste trabalho, mimetizamos o abuso de EAA em humanos com a administração intramuscular de uma dose suprafisiológica de propionato de testosterona (PT), em ratos, com o objetivo de investigar os efeitos desse tratamento sobre diferentes aspectos das funções cognitivas, especialmente aprendizado, memória e ansiedade. Ratos Wistar machos adultos foram submetidos aos testes de alternação espontânea, reconhecimento de objetos e esquiva discriminativa em labirinto em cruz elevado. O grupo controle recebeu injeções intramusculares de óleo vegetal (veículo); e o grupo testosterona, que recebeu injeções de PT (10 mg/kg, i.m.). As injeções foram administradas por 40 dias, com intervalos de 48 horas (tratamento crônico) ou em uma única injeção (tratamento agudo). Além das avaliações comportamentais, foram realizadas análises bioquímicas como indicadores dos efeitos neuroendócrinos do tratamento. Nossos resultados mostram que o tratamento crônico com uma dose suprafisiológica de PT acarretou prejuízos na memória de reconhecimento de objetos novos e na evocação da tarefa da esquiva discriminativa. A memória espacial operacional (avaliada pelo teste de alternação espontânea) não foi afetada bem como não observamos alterações nos níveis de ansiedade. Em relação aos parâmetros bioquímicos avaliados, o tratamento crônico elevou os níveis séricos da transaminase glutâmica pirúvica (TGP), um indicador que houveram lesões hepáticas e pancreáticas assim como as observadas após o uso crônico dessas substâncias em humanos. Por outro lado, o tratamento agudo com PT não promoveu alteração significativa em nenhum dos parâmetros avaliados, quando comparados ao grupo controle. Em síntese, podemos concluir que o tratamento crônico com uma dose suprafisiológica de testosterona produz déficits de memória de reconhecimento de objetos bem como déficits na evocação da memória na tarefa da esquiva discriminativa em ratos machos adultos.