Atividade de morcegos insetívoros (Mammalia, Chiroptera) no Pampa Brasileiro: uso de hábitat e sazonalidade.
Área aberta; Detector de ultrassons; Monitoramento acústico; Molossidae; Rio Grande do Sul; Vespertilionidae; Ecolocalização.
Os morcegos correspondem a 20% dos mamíferos atuais e, com poucas exceções, apresentam ecolocalização, um sistema de orientação espacial a partir da emissão e análise de ecos de ondas sonoras, geralmente ultrassons. A ecolocalização foi descoberta na década de 1940 e a partir de 1970 detectores de ultrassons tornaram-se comercialmente disponíveis, permitindo a investigação de diversos aspectos sobre história natural e ecologia de morcegos. Monitoramentos acústicos tem sido frequentemente utilizados em estudos de uso de hábitat, principalmente na América do Norte e Europa, com a comparação entre diferentes locais quanto ao número de vezes em que morcegos são registrados. A presente dissertação apresenta a primeira avaliação de padrões espaciais e sazonais na atividade de quirópteros insetívoros do Brasil, realizada no bioma Pampa, Estado do Rio Grande do Sul. Uma vez que a atividade de morcegos pode variar de acordo com o hábitat, o período do ano e condições climáticas, foram testadas as seguintes hipóteses: 1. a atividade de morcegos é heterogênea entre diferentes tipos de hábitat; 2. a atividade apresenta variações sazonais; 3. a atividade é influenciada pela temperatura, umidade e velocidade do vento. As amostragens acústicas foram realizadas em transectos fixos de 1500 metros, monitorados mensalmente de abril de 2009 a março de 2010, que abrangeram cinco tipos de hábitat. Em cada amostragem, foram obtidos o número de registros de atividade com um detector de ultrassons Pettersson D230. No total, foram obtidos 1183 registros de atividade, sendo que os maiores níveis de atividade de quirópteros foram observados ao longo de árvores de eucaliptos de grande porte (1,93 registros/3 min) e de um canal (1,61 registros/3 min). Em segundo lugar, a borda de uma mata ciliar (0,94 registros/3 min) e a margem de um banhado (0,61 registros/3 min) apresentaram níveis equivalentes de atividade. As áreas de campo foram menos utilizadas. A atividade de quirópteros não apresentou correlação com os fatores abióticos. Porém, foi significativamente menor na estação mais fria, o inverno, e apresentou valores similares no outono, primavera e verão. A preferência por bordas de vegetação e cursos d´água coincide com o documentado para outros países e é atribuída principalmente à concentração de presas nestes tipos de ambiente. Do mesmo modo, a diminuição da atividade no inverno é provavelmente uma resposta à menor disponibilidade de insetos, além das baixas temperaturas. Nossos dados indicam que áreas de vegetação arbórea e cursos d´água são prioritárias para a conservação de morcegos e que alterações nestes tipos de hábitat tendem a influenciar negativamente a atividade de morcegos na região.