A influência das pistas ambientais na expressão das estratégias de história de vida
Teoria da História de Vida; Estratégias de História de Vida; Mortalidade; Imprevisibilidade; Comportamento reprodutivo
O princípio básico da Teoria da História de Vida é o de que a evolução moldou os seres vivos para converter recursos coletados do ambiente em réplicas de seus genes. Entretanto, a maximização da aptidão nem sempre está relacionada a produzir uma grande quantidade de filhos: a interação com fatores ambientais como a mortalidade e a imprevisibilidade é crucial para a compreensão dos trade-offs realizados pelos indivíduos de cada espécie ao longo da vida, e portanto, de suas estratégias de história de vida, que são organizadas em torno de um continuum entre extremos rápido-lento. De modo geral, estratégias rápidas estão mais voltadas à reprodução imediata, enquanto estratégias lentas são caracterizadas por maior investimento em reprodução futura (esforço somático). Filogeneticamente, a espécie humana se situa no extremo lento dessa dimensão, mas considera-se que existem variações intraespécie e intrapopulacionais. Nas últimas décadas, o fenômeno global da redução drástica do tamanho das famílias a despeito da abundância de recursos tem desafiado as explicações correntes acerca do comportamento reprodutivo humano. Nesse sentido, no estudo empírico buscamos compreender de que forma fatores como a mortalidade, imprevisibilidade, contexto socioeconômico e densidade populacional poderiam explicar variações nas estratégias reprodutivas na população brasileira. Encontramos evidências de que a mortalidade, a imprevisibilidade na infância e a imprevisibilidade atual predizem alguns marcadores comportamentais de história de vida como o esforço reprodutivo, quantidade de filhos idealizada, idade da primeira reprodução idealizada e tempo de relacionamento. Nossos resultados corroboraram em parte a literatura atual acerca da relação entre ambiente e desenvolvimento de estratégias de história de vida, trazendo também resultados divergentes no que diz respeito à relação entre o contexto da infância e a estratégia de história de vida adotada pelos indivíduos, demonstrando a necessidade de aprofundamento das investigações acerca do tema, especialmente utilizando amostras de países fora do contexto norte-americano e europeu, tal como o Brasil.