Variabilidade acústica nos botos-cinza (Sotalia guianensis, Van Beneden, 1864)
Variação Geográfica, Dialeto, Boto-Cinza, Rio Grande do Norte, Assobios, Variação Acústica, Comunicação.
Na comunicação o sinal é transmitido por um emissor e pode carregar informações a respeito de sua identidade, seu tamanho, seu status sexual, suas habilidades para luta e sobrevivência. Múltiplos fatores podem interferir nessa comunicação, alterando o sinal emitido em consequência de variação no ambiente, na morfologia corporal, na aprendizagem social e na transmissão cultural. Sinais acústicos podem variar entre populações. O dialeto é a variação nos sinais de duas populações que trocam genes e variação micro ou macrogeográfica, dependendo da distância, existe entre populações onde não há intercâmbio de indivíduos. Estes termos não estão bem estabelecidos na comunidade científica e muitas vezes são considerados sinônimos ou são usados incorretamente, por isso foi feita uma revisão para explicar os termos envolvidos na variação acústica. Uma padronização dos termos foi proposta esclarecendo os processos que podem ou não estarem relacionados com a evolução desta tipo de variação. A variação acústica está presente em sinais de odontocetos (golfinhos e outros cetáceos com dentes, Ordem Cetartiodactyla), que usam esta modalidade de comunicação na mediação de interações sociais, para obtenção de alimento e para orientação espacial. Um dos principais sons emitidos pelos golfinhos em suas interações é o assobio (som tonal de frequência modulada). O objetivo desse estudo foi comparar os assobios dos botos-cinza (Sotalia guianensis) coletados em Baía Formosa, RN (6o 22' S; 35o 00' W) com dados publicados das demais localizades na América Latina. Os resultados mostram correlações significativas entre frequência máxima e final e entre inicial e mínima, tanto em Baía Formosa, quanto nos outros locais, indicando uma preponderância de assobios com modulação de frequência ascendente para a espécie em toda sua distribuição. A duração teve uma correlação negativa significativa com a frequência inicial em todos os locais comparados (p < 0,00001 e r2 = 0,71) e pode indicar que existe um limiar fisiológico para produção de assobios muito agudos. A análise de componentes principais dividiu os locais em dois grupos maiores, porém não foi devido a uma variação latitudinal. Provavelmente diferenças no método de amostragem (equipamentos com taxas de frequência limite distintas e parâmetros de análise espectral distintos), variações no ambiente, diferenças nas frequências de filhotes (produz sons mais agudos) ou animais de maior porte (emite frequências menores) e aprendizagem vocal social podem estar mascarando efeitos geográficos nos padrões vocais.