O período juvenil em macacos-prego (Sapajus sp.): habilidades de forrageio e rede social.
Desenvolvimento, network, macaco-prego, habilidades manipulativas.
O estudo do desenvolvimento tem recebido destaque com a crescente aceitação de novas teorias biológicas como a Construção de nicho e a Epigenética, modelos que defendem que processos comportamentais podem ter um papel maior do que previamente se suspeitava no desenvolvimento e manutenção das variações fenotípicas. Essa perspectiva é particularmente relevante no estudo de espécies que vivem em ambientes socialmente e ecologicamente complexos, como é o caso da maioria dos primatas, pois é durante o desenvolvimento que os indivíduos aprimoram o comportamento adequado para sobrevivência diante das condições imediatas. Neste trabalho o macaco-prego (Sapajus sp.) é usado como modelo por apresentar um desenvolvimento marcado por longos períodos juvenis, e a necessidade de aprendizado de habilidades sociais e manipulativas complexas, características de suas espécies. Especificamente iremos analisar: 1) o desenvolvimento das habilidades de forrageio, 2) as mudanças nas relações de interação e proximidade entre os indivíduos (Social network), considerando a influência do nascimento de filhotes e, 3) as mudanças nas relações de interação e proximidade entre os indivíduos (Social network) ao longo das fases do imaturo. Para tanto, utilizaremos dados coletados em dois grupos em regimes de semicativeiro e semiliberdade. O primeiro grupo é proveniente do Parque Ecológico do Tietê (PET) (cerca de 20 ha), localizado na Zona leste de São Paulo e composto por 26 indivíduos (Sapajus sp.), cujos dados foram coletados entre os anos de 1999 e 2001. O segundo grupo vive em um fragmento (cerca de 190 ha) localizado em Goiana no Estado de Pernambuco e é composto por uma média de 45 indivíduos da espécie Sapajus flavius. Os dados desse grupo foram coletados entre os anos de 2013 e 2014. Para estudo do comportamento de forrageio e obtenção de alimento faremos análise de sequência comportamental dos indivíduos de acordo com a fase de vida. Serão realizadas análises probabilísticas utilizando o método das árvores orientadas de caminhos mais curtos. Para a compreensão da estrutura social serão feitas análises de grupamento utilizando o programa SOCPROG. As medidas definidas da network individual (força, centralidade, coeficiente de agrupamento e afinidade) serão comparadas de acordo com o sexo, a faixa etária e a presença ou ausência de filhotes, no caso das fêmeas. Nós esperamos que as sequências de comportamentos de forrageio sejam mais curtas e contenham maior probabilidade de incluir etapas de ingestão de alimentos conforme os animais se tornem mais eficientes durante o desenvolvimento. Com relação às networks, predizemos que fêmeas com filhotes apresentarão índices de centralidade mais altos e utilizarão infantes para ter acesso a melhores áreas de alimentação, subindo de ranking, pelo menos temporariamente. Juvenis terão trajetórias de desenvolvimento dependentes da hierarquia das mães. E a centralidade de indivíduos juvenis deve diminuir conforme eles se tornam mais velhos. Devido à filopatria de fêmeas, juvenis de sexos diferentes devem ter relações de proximidade diferentes. As relações de catação devem seguir o padrão top-down, com juvenis recebendo episódios de catação mais curtos conforme ficam mais velhos e oferecendo esse comportamento de forma mais demorada aos dominantes.