MODERNIDADE E COLONIALISMO: A PRODUÇÃO DA VIDA NUA QUE ESCAPOU A AGAMBEN
Vida nua. Modernidade. Campo. Colonialismo.
Este trabalho tem como objetivo problematizar o conceito de vida nua como vidas impunemente matáveis pela decisão soberana, tal como foi inicialmente formulado pelo filósofo italiano Giorgio Agamben. Para tanto, definimos como objeto de análise os textos do projeto Homo sacer, com ênfase no primeiro volume: O poder soberano e a vida nua (1995). A tese a ser defendida investiga a relação entre vida e política quando, divididas e articuladas entre si através do poder do Estado, a vida (humana, cidadã, consciente e livre) torna-se uma forma qualificada, ao passo que faz surgir uma outra sem forma (sem identidade) e impunemente descartável: a vida nua. Diante disso, a política torna-se uma bio-necropolítica, ou seja, uma organização e gestão calculada da vida e da morte dos indivíduos, o que se justifica como política de exceção. Assim, percebemos que, em Agamben, a vida nua se materializa no espaço denominado de “campo”, o qual torna-se o principal paradigma político do Ocidente. Seguindo essa perspectiva, nossa hipótese é a de que esse conceito de vida nua tem suas raízes paradigmáticas no personagem Homo Sacer, na antiguidade ocidental, mas com a modernidade se fazem presentes na vida do escravizado durante o colonialismo, estendendo-se seus limites contemporâneos na figura do Mulsemann, em Auschwitz. Vale ressaltar que o problema político-filosófico se configura quando problematizamos essa vida desde a Modernidade Ocidental, a partir da tríade colonialismo-nazismo-fascismo. Com isso, inserimo-nos nas discussões da Filosofia Política, buscando contribuir com o fato inegável de que todas as formas existentes do campo se configuram como crimes contra a humanidade e constantes fábricas de vidas impunemente matáveis.