MOBILIDADE E AGÊNCIA ESPIRITUAL: TRANSNACIONALIZAÇÃO DAS RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS EM MADRID A PARTIR DO ILÊ OGUM OIÁ AXÉ ODARA
Antropologia da Religião; Religiões Afro-Brasileiras; Agência de Entidades Espirituais; Mobilidade; Transnacionalização.
Esta tese investiga como a mobilidade de pessoas e a agência de entidades espirituais influenciam a transnacionalização das religiões afro-brasileiras. O campo de pesquisa se concentra no Ilê Ogum Oiá Axé Odara, em Madrid, Espanha, onde se praticam Umbanda, Quimbanda e Batuque de Nação Jeje-Ijexá. Para alcançar o objetivo proposto, foi realizada uma etnografia orientada pela disposição em ser afetado pelo campo (Favret-Saada, 2005) e pela atenção às formas de habitar o mundo (Ingold, 2015), fundamentando-se na construção compartilhada do conhecimento. A partir das trajetórias do sacerdote Raul de Ogum e de seus deslocamentos entre Brasil, Uruguai e Espanha, a tese analisa como esses movimentos contribuíram para a formação religiosa e o fluxo das religiões afro-brasileiras. Nessa perspectiva, a análise adota a noção de movimento (Ingold, 2018). O terreiro, por sua vez, afirma-se como espaço de pertencimento, sustentado por doutrinas que atuam como pedagogias para garantir sua legitimação e a continuidade das práticas religiosas. A mobilidade de pessoas também é apresentada como fator importante na formação e consolidação do terreiro, pois é por meio dela que se configura a etnopaisagem (Appadurai, 2004) de praticantes cujas trajetórias convergem nesse espaço, enquanto a atuação do antropólogo é compreendida como parte dessa dinâmica, favorecendo a expansão das redes de contato. Por fim, a tese discute a agência das entidades espirituais como dimensão central na produção de vínculos, na expansão das redes e na consolidação do terreiro como espaço legítimo de experiência religiosa. A agência das entidades é pensada a partir do diálogo com os debates clássicos sobre agência (Gell, 2016; Ortner, 2007; Latour, 2012) e com as reflexões recentes sobre a vida social dos espíritos (Blanes e Espírito Santo, 2014). Conclui-se que a transnacionalização das religiões afro-brasileiras é formada tanto pelas trajetórias humanas quanto pela agência das entidades espirituais.