Parir e sangrar em corpo soberano:
Os usos e sentidos da Ginecologia Natural no circuito das doulas
Doulas, Humanização do Parto, Ginecologia Natural, Estilo de vida,
Feminismos Contemporâneos
Este trabalho investiga, através de pesquisa etnográfica, o circuito das doulas no Rio Grande do Norte, tendo como recorte empírico as atividades promovidas e/ou frequentadas por aquelas que se associam à vertente alternativa do Movimento pela Humanização do Parto. Tal circuito é hoje constituído por encontros que têm difundido as ideias da denominada Ginecologia Natural — expressão sociocultural emergente na América Latina nas últimas duas décadas que, assumindo uma postura crítica frente à presença de uma epistemologia colonial na assistência hegemônica à saúde da mulher, tem se popularizado através de rodas de “trocas de saberes”, vivências terapêuticas e workshops, promovendo um sistema simbólico particular à luz de suas reivindicações. Buscou-se compreender como as doulas têm incorporado o ideário da Ginecologia Natural em suas narrativas e práticas, quais pontos de contato esse movimento guarda com o da Humanização do Parto e seu próprio ideário, e o que isso implica na construção das trajetórias individuais das interlocutoras. Este texto evidencia, ainda, a contribuição dessas agentes na construção de outros sentidos em torno dos corpos e seus eventos, como o gestar, o parir e o sangrar. Esta pesquisa se apropriou especialmente das elaborações teóricas e metodológicas da Antropologia Urbana, da Antropologia Feminista e de algumas formulações em torno do eixo gênero, outras epistemologias e decolonialidade produzidas, sobretudo, por mulheres no Sul Global.