EM MOVIMENTO E NO MOVIMENTO: Estratégias políticas e identitárias Tapuya Kariri na Serra da Ibiapaba - CE
Tapuya Kariri; Serra da Ibiapaba; Política; Luta; Lideranças; Educação; Saúde; Encantados.
Esta tese tem como objeto de análise a construção de estratégias políticas e identitárias do povo Tapuya Kariri localizado na Serra da Ibiapaba, nas cidades de Carnaubal e São Benedito no estado do Ceará. A etnografia se volta à compreensão dos múltiplos acionamentos e práticas que constituem a luta, que é categoria nativa central nas narrativas de conflito e que articula diversos aspectos da vida social desse povo, em um contexto de forte expropriação territorial. Assim, objetivamos analisar a luta como parte precípua do movimento étnico-político, sendo abordada a partir das práticas políticas e rituais do povo Tapuya Kariri. Para tanto, abordaremos o processo de constituição histórica, formação e legitimação de lideranças associado às dinâmicas territoriais; identificaremos as estratégias de luta política e identitária, envolvendo movimentos e práticas políticas e rituais que perpassam e instrumentalizam instituições como a escola e o posto de saúde; contextualizaremos o processo de territorialização e as concepções de territorialidade e território; e, por fim, analisaremos a agência dos “encantados” na política humana, compreendendo a cosmopolítica, para além da cosmologia, como prática. O recorte feito toma o povo Tapuya Kariri dentro de um processo de organização social e política, movido inicialmente pela luta de Chico Pai Zé que tinha como base o sindicalismo e, posteriormente, o movimento indígena estadual e demais mediadores. Desde 2006, quando se organizaram enquanto grupo étnico, os Tapuya Kariri “retomaram” sua história, a escola, disputaram narrativas de visibilidade com o Estado e o ocupam, bem como articularam estratégias com outros povos indígenas, construíram e vivenciaram formas políticas e de distribuição de poder interno. Debruçamo-nos sobre a luta empreendida pelos Tapuya Kariri por meio de observação etnográfica de eventos, do cotidiano, do manejo das políticas públicas, da construção de estratégias políticas e da observação de rituais. Além disso, utilizamos entrevistas que foram articuladas ao trabalho de campo e aos documentos existentes e produzidos no processo do trabalho etnográfico. A luta, como categoria etnográfica e analítica, ganha relevância ao permitir analisar os processos de resistência e ação política Tapuya Kariri em seus múltiplos acionamentos e contextos. Ela conecta o território, a educação, a saúde e os “encantados” dentro do projeto de ser Tapuya Kariri que “inverga, mas não quebra” nos diversos enfrentamentos frente aos conflitos que se sucederam ao longo de pelo menos 16 anos. Destarte, os investimentos políticos das lideranças, destacando o papel das mulheres e da espiritualidade que conecta a “ciência” como saber e a luta, tem possibilitado ao povo avançar em termos de políticas públicas. As lideranças se tornam os principais mediadores da relação entre os indígenas, o Estado e os “encantados”. Ao serem legitimados por seus pares, elas elaboram estratégias internas e se inserem em espaços políticos de participação e diálogo, construindo alianças que os possibilitam fazer o jogo político nas diversas arenas de disputas em defesa dos interesses coletivos.