DO MATO AO REINADO: uma etnografia da interação humano-caprino no Cariri paraibano.
caprino; interação humano-animal; festa do bode rei; agência; personificação.
O campo dos estudos acerca das relações humano-animal na antropologia remonta aos cânones da ciência. Antropólogos e antropólogas como E.E.Evans-Pritchard, Claude Lévi-Strauss e Mary Douglas trazem em suas reflexões a figura animal numa perspectiva exterior a vida humana, contemplados como “outros” nas relações sociais. Com a virada ontológica, ou virada animal, nos anos de 1970, surge para a antropologia uma nova perspectiva que se propõe a romper com a dicotomia natureza-cultura. Partindo dessa premissa, a presente dissertação descreve a interação existente entre humanos e caprinos, demonstrando como ambas as espécies contribuem para a construção social e para a diluição de uma concepção dualista imposta pela modernidade. Desse modo, o trabalho responde como um animal, que por muitos anos, foi considerado pelos locais como animal de mato e passa a ser homenageado e coroado na Festa do Bode Rei, maior festividade nacional, criada no cariri na década de 90. A pesquisa objetiva averiguar a inserção do animal ao contexto paraibano, descrever a coroação do bode, investigar sobre a personificação do animal não-humano, compreender o animal não-humano como um ser que possui agência casual, além de percorrer os atravessamentos para a coleta de dados no campo. Para a realização da dissertação foi empregado o método etnográfico, com suas diversas técnicas, observação participante, entrevistas abertas, registros fotográficos e diário de campo, no período de janeiro a março de 2021, no município de Cabaceira, no Estado da Paraíba. Por conseguinte, elaboro, conforme a percepção local, como o animal não-humano, torna-se agente social central, contribuindo para a dinâmica social, cultural e administrativa do município.