BOA VISTA DOS NEGROS: RELAÇÕES INTERRACIAIS E TRAJETÓRIAS INDIVIDUAIS
Relações interraciais; Seridó; Boa Vista dos Negros; Trajetórias.
Até as primeiras décadas do século XX, a ausência de estudos sistemáticos sobre as comunidades quilombolas impediu visualizar a pluralidade étnico-racial do sertão do Seridó. Com as políticas públicas favorecendo as emergências étnicas, a questão das relações interraciais começou a ser objeto de pesquisa antropológica e histórica, desconstruindo as narrativas construídas pelas elites regionais. Na continuidade dessas investigações, o presente trabalho propõe retomar o problema a partir das dinâmicas locais: serão observadas as relações que a comunidade quilombola da Boa Vista dos Negros mantem com seus vizinhos, os representantes das elites locais, tais como fazendeiros, as autoridades eclesiais e políticas. Numa perspectiva que associa a antropologia à história, pretende-se aqui explorar as memórias quilombolas em diálogo com as produzidas nas comunidades vizinhas. Para isso, além da coleta da tradição oral e a observação participante, precisa explorar as fontes cartoriais, paroquiais e da administração pública para melhor compreender a realidade estudada. Assim, as relações interraciais observadas em nível local serão analisadas a partir da trajetória de um personagem chave, Teodósio Fernandes da Cruz (1864-1954), liderança histórica que é reconhecido como o principal mediador entre os quilombolas e a sociedade englobante. Evidenciam-se estratégias de resistência para manter a integridade do território e aceder a benefícios. O andamento da pesquisa tem revelado que a comunidade em foco mantém internamente memórias que revelam uma outra história local. Evidencia-se ainda a habilidade dos quilombolas no que diz respeito a aproximações e distanciamentos com as povoações do entorno, de forma que a discriminação e quaisquer outras formas de opressão sejam evitadas.