ARCO-ÍRIS DO CAMPO: ETNOGRAFIA DA PERFORMANCE IDENTITÁRIA DAS TRAVESTIS EM CONTEXTOS RURAIS E INTERIORANOS DO SERTÃO POTIGUAR
Travestis; Ruralidades; Interioridades; Performance identitária.
RESUMO
As pesquisas sobre travestis apresentam majoritariamente um locus urbano para a performance identitária das travestilidades, pouco conhecendo as performatizações em outros contextos, como rurais, interioranos e etnicamente diferenciados. Por via etnográfica acompanhei cotidianamente, com alguns intervalos, cinco travestis entre fevereiro e setembro de 2019 em um município rural/interiorano do sertão norteriograndense, buscando problematizar e compreender como essas travestis performatizam suas identidades de gênero e constroem seus corpos e subjetividades. Para isso refletirei sobre a fluidez e descentramento destas performances identitárias no jogo nos símbolos, comportamentos e práticas generificadas e sexualizadas, percebendo a potência das corporeidades nesses contextos; analisarei as várias vias de socialização dessas sujeitas a partir de suas trajetórias de vida (BOURDIEU, 2006) e dos seus os projetos (VELHO, 1981), buscando evidenciar os marcadores sociais da diferença de raça, classe, geração e deficiência. Também refletirei sobre suas redes de sociabilidade no que tange principalmente às relações estabelecidas entre elas, com as travestis de outros municípios, com a família e com seus parceiros amorosos. De forma transversal discutirei temáticas que versam a (in) visibilidade social, os deslocamentos e as resistências cotidianas. Deste modo, as reflexões desse texto dissertativo também têm como foco a desmistificação da existência das travestis nesses contextos, assim como o rompimento da percepção dual que coloca o rural como um lugar subalterno das performances de travestilidades.