Um rastro de memória: terra, parentesco e ofícios na Família Belém em Acari/RN (Séc. XVIII-XXI)
Memória. Parentesco. Ofícios.
O trabalho tem como objetivo entender o processo de apagamento da presença negra no Seridó a partir da análise comparada dos documentos históricos e das memórias da "família Belém" composta por grupos domésticos oriundos de uma fazenda de criar que tem em seus registros o maior número de escravos nos meados do século XVIII. Se desde do início da colonização, os africanos escravizados estão presentes no Seridó, seus descendentes sofreram um processo de invisibilização e estigmatização além do esbulho de suas terras que foram “tomadas” pelos grandes fazendeiros. A trajetória genealógica da família Belém, as memórias dos descendentes dos Moura, dos Guiné e dos Belém foram cruzadas com os documentos históricos disponíveis. Irei descrever como "A família Belém" se constituiu em torno de um apagamento voluntário da mancha deixada pela escravidão. Busca-se, assim, através da perspectiva histórica, questionar os dados etnográficos e a partir dos dados etnográficos, preencher as lacunas deixadas pelos documentos históricos (Wachtel, 1990). Entre outros resultados, a pesquisa revela uma grande diversidade de estatutos entre os afrodescendentes ao longo do processo histórico, a existência de práticas cotidianas e de ofícios que remetem diretamente ao passado colonial, apesar dos poucos registros da memória. Os vaqueiros, tropeiros, cozinheiras e outros personagens que exerceram ofícios especializados, testemunham, pelos seus saberes e práticas cotidianas, a continuidade histórica das populações africanas escravizadas no Seridó e estratégias de resistência à dominação.