'Só tenho dois braços' - a pandemia de Covid-19 e o setor artesanal do Rio Grande do Norte
Artesanato, políticas públicas, comércio digital, pandemia.
Neste trabalho, analiso o contexto de crise que acometeu o setor artesanal potiguar diante da pandemia do novo coronavírus, com ênfase nas estratégias escolhidas pelas artesãs para lidar com as consequências da crise sanitaria. Para isso, delimitei um campo social do artesanato potiguar como unidade analítica. Meu percurso etnográfico se decompõe em diversas etapas: inicialmente participando da gestão pública das políticas para o artesanato, passando pelo acompanhamento de entidades representativas do setor e por etnografia digital focalizada nas mídias sociais mais empregadas pelas artesãs. Foram observados vários percalços enfrentados pelas trabalhadoras do setor no decorrer da pandemia: o primeiro momento de desalento em virtude da suspensão abrupta das feiras, do turismo, e de todas as formas presenciais de comercialização; a sobrecarga de trabalho doméstico; as mobilizações e anseios para o recebimento do auxílio emergencial; a crise na oferta de matéria-prima; as mobilizações para a Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc; a busca por aplicativos e marketplaces específicos ao setor; e, finalmente, a gradual retomada das modalidades presenciais de comercialização. Durante todo esse período, a inserção acelerada em redes de comércio digital foi uma necessidade constante. No decorrer da pesquisa foi possível identificar uma multiplicidade de referenciais discursivos ativados reflexivamente pelas artesãs nesse processo. Argumento que a ampliação do mercado digital para o setor artesanal em decorrência da suspensão de modalidades presenciais de comercialização constitui apropriação das tecnologias pelas artesãs num contexto de excepcionalidade, onde o uso da tecnologia reflete as características do setor, também influenciado pelas dinâmicas próprias das plataformas digitais.