“SANTO DE CASA NÃO OBRA MILAGRES”
Os impactos das políticas de salvaguarda na Festa de Santo Antônio (Barbalha/Ceará)
Festas Populares. Patrimônio Imaterial. Cultura Popular.
Desde 2000, há um crescimento significativo de estudos sobre patrimônios imateriais. No entanto, poucos se dedicam a observar os procedimentos das agências responsáveis por realizar os registros e as repercussões locais. O trabalho propõe analisar os processos de patrimonialização e seus impactos através do estudo da festa de Santo Antônio, em Barbalha, Ceará. Irei observar as tensões e disputas entre os grupos populares, os representantes das instituições de preservação e a igreja, a atuação dos profissionais municipais (Secretaria de Cultura, turismólogos etc.) Com o registro da festa no livro das celebrações do Iphan, em 2015, observa-se uma transformação das performances, um aumento da burocratização e tensões entre instituições municipais, estaduais e os grupos populares. A pesquisa foi realizada nos anos de 2018, 2019, durante a preparação da festa e sua concretização, e em 2020, 2021 e 2022, com a realização de entrevistas com os agentes municipais e os integrantes dos grupos populares. Os procedimentos metodológicos adotados foram, sobretudo, etnografia e entrevistas. Constatou-se durante o estudo que a patrimonialização do festejo ocasionou na modificação das tradições populares, tornando a festa de Santo Antônio um evento espetacular para a região do Cariri. A grande repercussão da festa e, consequentemente, o seu registro enquanto patrimônio imaterial está ligado ao papel que os grupos populares desempenham nesse contexto e como a narrativa sobre o festejo e a cultura popular foi construída por setores elitizados da cidade, que consolidaram a festa como um evento popular/tradicional. Apontamos que essa narrativa colaborou para os silenciamentos dos grupos populares sobre a manifestação cultural da festa de Santo Antônio, ocasionando nos processos de burocratização e na dificuldade que os detentores do bem têm em ter acesso as políticas culturais. Concluímos que o patrimônio da festa, em muito dos casos, torna-se distante das populações que os originaram, ocasionando na falta de diálogo entre os grupos populares e as instituições de preservação.