“MINHA VIDA POR UM FIO”: uma etnografia da mobiilização social e das trajetórias das mulheres ribeirinhas vítimas de escalpelamento na Amazônia.
Escalpelamento; gênero, emoções, sofrimento social; Amazônia
Para produzir esta etnografia, objetivou-se compreender narrativas e trajetórias em contexto de dor e sofrimento de mulheres pescadoras e ribeirinhas vítimas de escalpelamento nas regiões de rios da Amazônia. O Escalpelamento é um termo do campo biomédico que refere-se ao arrancamento do couro cabeludo, no contexto em que investigo, o acidente ocorre através do enrolamento dos cabelos das mulheres no eixo dos motores de pequenas embarcações confeccionadas por mestres carpinteiros. O presente texto de qualificação trata-se do trabalho de campo realizado dentre os meses de agosto de 2018 a agosto de 2019 em Belém, no Estado do Pará, realizado em particular, na ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor – ORVAM, com cerca de 150 integrantes cadastradas que visa acompanha-las no pós-acidente. As mulheres vitimadas por esse acidente, que em suma, ocorre quando são crianças ou adolescentes, tem suas vidas alteradas drasticamente, desde a privação do meio social, abandono dos estudos, abandono de conjugues, algumas sofrem até com o abandono da família, a vida laboral com a pesca torna-se impraticável, devido as dores de cabeça e às altas temperaturas da região Norte. Logo suas trajetórias são tomadas por itinerários terapêuticos, com cirurgias plásticas, enxertos, inserção de próteses como orelhas (também por vezes mutiladas) e usam-se de perucas, uma vez que o escalpelamento impossibilita o crescimento de cabelos outra vez, nesse sentido, buscam através desse meios, reconstruírem seus corpos e tornarem-se o que chamam de “mulheres de verdade”. O Estado, por sua vez, atua elaborando políticas num discurso de combate e prevenção ao acidente. Questões como Deficiência, Trabalho Infantil e Acidente de Trabalho também integram o complexo debate que envolve o contexto desse acidente cruel e por vezes irreparável. Neste sentido, sob a luz da Antropologia, busco refletir essas questões na interseção do Corpo, Saúde e Emoções.