“AS TRAVAS DE JARDIM SÃO UNIDAS”: ETNOGRAFIA DA PERFORMANCE IDENTITÁRIA DAS TRAVESTIS EM CONTEXTOS RURAIS E INTERIORANOS DO SERTÃO POTIGUAR
Travestis; Contextos rurais e interioranos; Performance identitária; Visibilidades sociais; Sociabilidades.
RESUMO
As pesquisas sobre travestilidades apresentam majoritariamente um locus urbano e metropolitano para a performance identitária das travestis, pouco conhecendo as performatizações em outros contextos, como os rurais e interioranos. Por via etnográfica acompanhei cotidianamente, com alguns intervalos, cinco travestis entre fevereiro e setembro de 2019 em um município rural/interiorano do sertão norteriograndense, buscando problematizar e compreender como elas performatizam suas identidades de gênero e constroem seus corpos e subjetividades. Para isso, refleti sobre a fluidez e descentramento destas performances identitárias no manejo dos símbolos, das formas de tratamento e dos espaços generificados; e analisei, no âmbito da alteridade, as visibilidades sociais e as sociabilidades construídas/presentes nos cotidianos observados, tendo como base os marcadores sociais da diferença de classe, deficiência, geração e raça. De um lado, compreende-se as agências e a diversidade envoltas das travestilidades, corroborando na expansão do mosaico e do caleidoscópio das travestilidades brasileiras e nordestinas, e evidenciando a heterogeneidade a partir dos marcadores diferenciados de subjetivação e de deslocamentos. Por outro, desmistifica-se o Nordeste e seus interiores [rurais] como “atrasados” e locus da moralidade conservadora e repressora, e problematiza-se a geometria dos espaços, que socioculturalmente propaga e defende a hierarquia do urbano/metropolitano “civilizado” sobre o rural/interiorano “primitivo”, alegando a recognição das cidades como lugares de trânsitos, onde os municípios urbanos ou rurais estão interligados pelos deslocamentos multilaterais, colocando em questão a essencialização e a binariedade do rural, urbano, interior e metrópole.