“Lagostas, marés e mudanças na comunidade de pescadores artesanais de Maracajaú, no litoral do Rio Grande do Norte”
Etnociência, etnohistória, lagosta, comunidade de pescadores.
Simbolicamente, as marés podem representar as mudanças ocorridas tanto na Natureza quanto nas sociedades humanas e suas culturas, nunca estáticas, mas em processos de contínuas alterações, imprevisíveis para os homens apesar de cíclicas. As comunidades de pescadores artesanais do litoral nordestino brasileiro, como quaisquer outras, também estão sujeitas ao dinamismo das mudanças socioeconômicas que se aceleram com as trocas culturais que a globalização vem proporcionando nos últimos anos. A presente pesquisa faz uma análise das mudanças ocorridas na comunidade de pescadores artesanais do distrito praiano de Maracajaú, localizado no município de Maxaranguape, estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Um incidente internacional ocorrido no início da década de 1960 entre o Brasil e a França, que ficou conhecido na História como a “Guerra da Lagosta”, a partir de quando o crustáceo passou a atrair a atenção e investimento do empresariado brasileiro, pois sua pesca e comercialização eram quase inexistentes no Brasil. Com a transformação da lagosta, abundante no litoral do Rio Grande do Norte, em mercadoria com grande aceitação, procura e elevado valor no exterior, os pescadores artesanais do litoral nordestino tiveram que se adaptar a novas técnicas de pesca, muitos deles passando a vender sua força de trabalho às empresas dedicadas à pesca industrial. A captura indiscriminada e muitas vezes predatória da lagosta, além dos conflitos de interesse surgidos com os empresários do turismo, levou a uma nova crise no setor pesqueiro, com consequências de ruptura das novas gerações, pois novas oportunidades de atividades e postos no mercado surgem, afastando uma parcela desses jovens das atividades tradicionais da pesca artesanal, que buscam novas alternativas de atividades profissionais, na maioria das vezes sem abandonar a comunidade onde nasceram.