Confiabilidade, validade convergente e desempenho do TRILHAR: processo de validação de um instrumento.
triagem; vocabulário; estudos de validação; linguagem infantil; reprodutibilidade dos testes.
Crianças com vocabulário restrito apresentam risco para transtornos de linguagem, podendo apresentar atrasos no nível morfossintático, dificuldades de decodificação e de compreensão leitora. A identificação de sinais de alterações de linguagem possibilita a intervenção precoce e, assim, o melhor prognóstico. O TRILHAR é um instrumento desenvolvido por pesquisadores brasileiros com o objetivo de proporcionar a triagem do vocabulário receptivo e expressivo de crianças entre 3 e 7 anos. Esse trabalho objetiva contribuir para o processo de validação do TRILHAR por meio da verificação da diferença de desempenho em vocabulário expressivo e receptivo em escolares de diferentes regiões, além de verificar a confiabilidade e a validade convergente do instrumento. Para a primeira análise, a amostra foi composta por 255 crianças de 3 a 7 anos divididas em dois grupos: G1 - 122 crianças do estado de São Paulo e G2 - 133 crianças do estado do Rio Grande do Norte. Todos os escolares, de G1 e G2, estudam em escolas públicas. As crianças do G1 apresentaram média de 9,90 (dp= 0,350) pontos no vocabulário receptivo, enquanto as do G2 9,83 (dp = 0,412) pontos. Quanto ao vocabulário expressivo, as crianças do G1 apresentaram média de 8,82 (dp = 1,305) e as do G2 8,53 (dp = 1,253) pontos. Para comparar os desempenhos, utilizou-se o teste t de duas amostras, demonstrando um valor de p de 0,16 para o vocabulário receptivo e 0,07 para o vocabulário expressivo. Esse resultado demonstra que não houve diferença significativa no desempenho entre os dois grupos. O aspecto semântico pode ter influência de diferentes condições como o ambiente familiar, escolar, idade, escolaridade dos pais e diversidade sociocultural. Portanto, ao aplicar ferramentas brasileiras de medição e rastreio do vocabulário, deve-se observar a realidade sociolinguística e considerar a variação da palavra-alvo como correta, visto a diversidade do vocabulário de um país geograficamente extenso como o Brasil. Conclui-se que o instrumento TRILHAR é adequado para ser aplicado nestes dois contextos socioculturais diferentes. Além disso, foi possível observar a pontuação média obtida por ambas as populações. Essa análise poderá contribuir para estabelecer os valores de referência esperados para cada faixa etária. A segunda análise objetiva verificar a validade convergente e confiabilidade do TRILHAR. Além disso, objetiva-se comparar o desempenho do vocabulário expressivo e receptivo de quatro grupos clínicos diferentes - crianças com Transtornos dos Sons da Fala (G-TSF), Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (G-TDL), Transtorno do Espectro Autista (G-TEA) e crianças com risco para dislexia (G-DD) - e analisar a relação do desempenho de outros testes de vocabulário com o TRILHAR. A amostra foi composta por 35 crianças entre 5 e 7 anos (média de 6,17 ± 0,82). Para verificar a confiabilidade, foi verificado o Alpha de Cronbach com a aplicação do TRILHAR duas vezes com intervalo de 7 dias. Apresentou confiabilidade muito boa, apresentando um α= 0.927. Para a validade convergente e comparação do vocabulário entre os grupos, foi aplicado o TVfUSP e ABFW vocabulário. Para a análise, foi realizada a Correlação de Kendall. A triagem do vocabulário expressivo do TRILHAR apresentou correlação moderada com o ABFW (r = 0.425; p = 0.002), enquanto a triagem do vocabulário receptivo não apresentou p significativo (p = 0.063) e demonstrou força da correlação fraca (r = 0.291). Na comparação entre grupos, G-TSF e G-DD tiveram maior média de acertos no TRILHAR - 19,54 ± 0,82 e 19,2 ± 1,30 respectivamente - ABFW – 100 ± 8,49 e 102,33 ± 11,90 - e TVfUSP – 100,63 ± 13,93 e 102,88 ± 13,37. O G-TDL apresentou a menor pontuação no TRILHAR e ABFW, sendo 16,9 ± 3,14 para o TRILHAR e 73,62 ± 22,69 para o ABFW. O G-TEA apresentou o menor desempenho para o TVfUSP – 82,25 ± 24,18, porém apresentou pontuação superior ao G-TDL no ABFW – 93,2 ± 19,99. Este desempenho condiz com os resultados encontrados na literatura, visto que o TDL apresenta implicações significativas na aquisição e no desenvolvimento da linguagem, resultando em dificuldades específicas de processamento fonológico e lexical - tanto no vocabulário receptivo como no expressivo. Como conclusão, o TRILHAR apresenta confiabilidade muito boa e correlação moderada com o ABFW, um instrumento validado e amplamente utilizado em pesquisas de vocabulário expressivo no Brasil. Para os próximos passos, se faz necessário a continuidade do processo de validação do instrumento, para que possa ser disponibilizado para a triagem do vocabulário das crianças brasileiras.