Nicho abiótico e efeitos do aquecimento global em Riorajini (Rajiformes, Chondrichthyes), raias do Atlântico subtropical ocidental
Conservatismo filogenético de nicho; modelagem de nicho ecológico; mudanças climáticas; simpatria; sobreposição de nicho.
O nicho abiótico de espécies conta parte de sua história ecológica e evolutiva, bem como pode ajudar a identificar grupos mais susceptíveis à extinção em um contexto de rápidas mudanças climáticas. Espécies marinhas de ambientes temperados estão entre as mais vulneráveis, pois o estresse térmico e demais impactos em cascata do aquecimento global podem resultar em perda de habitat e deslocamento de distribuição geográfica para maiores latitudes. A tribo Riorajini é composta por quatro espécies de raias marinhas – classificadas pela IUCN como vulneráveis ou em perigo de extinção – que coocorrem no sudoeste Neotropical do Atlântico: Atlantoraja castelnaui, A. cyclophora, A. platana e Rioraja agassizii. A presente dissertação, dividida em dois capítulos, usa esse agrupamento como modelo de estudos ecológico-evolutivos. No primeiro capítulo, questiona-se o conservatismo filogenético de nicho para um clado de espécies potencialmente competidoras em simpatria. Tratando-se de espécies filogeneticamente próximas, espera-se que uma baixa sobreposição de nicho reduza competição interespecífica. No segundo capítulo, estimaram-se os impactos das mudanças climáticas sobre a atual distribuição geográfica da tribo Riorajini. Modelos de nicho ecológico para cada espécie do grupo foram desenvolvidos sob condições geofísicas e climáticas atuais e futuras (2100, sob cenário climático extremo) do ambiente marinho. Dados ambientais e de ocorrência das espécies foram compilados de bancos de dados públicos e literatura. Análises de sobreposição e deslocamento de nicho foram conduzidas a níveis inter- e intraespecíficos. Os resultados indicam conservatismo filogenético de nicho no qual águas rasas, proximidade da costa e baixa concentração de nitrato são as variáveis mais importantes para a ocorrência das espécies. Em um cenário climático futuro projetado, as áreas de maior adequabilidade ambiental à ocorrência de cada espécie analisada aumentam em até 20% em direção a áreas de maior profundidade, sugerindo que esse clado resistirá ao estresse térmico decorrente do aquecimento global. Apesar disso, estudos futuros devem considerar efeitos combinados do aumento da temperatura a outros fatores potencialmente determinantes à coexistência dessas espécies, como a disponibilidade de presas.