Saúde mental, sono, sonhos e clima de segurança psicossocial na pós-graduação.
Depressão; ansiedade; sono; sonhos; clima de segurança psicossocial; pós-graduação.
Problemas de saúde mental entre pós-graduandos têm gerado debate dentro da comunidade acadêmica. Estudos anteriores identificaram níveis de ansiedade e depressão até 6 vezes mais altos do que na população em geral. Distúrbios do sono e abuso de substâncias também são frequentemente relatados. O fenômeno do sofrimento acadêmico requer mais pesquisas para identificar fatores etiológicos - intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo - para ações preventivas e suporte. O presente estudo teve como objetivo investigar fatores de risco e de proteção paradoenças mentais em uma amostra brasileira. 476 estudantes de pós-graduação (idade média 33,9, DP=8,62) de todas as regiões do Brasil completaram um questionário online, conforme aprovado pelo comitê de ética local (CAAE: 54127221.0.0000.5537). As perguntas abordaram aspectos sociodemográficos, estilo de vida e saúde, impacto da COVID-19, experiências acadêmicas, contexto social e relatos de sonhos. Instrumentos de triagem psicométrica para depressão (PHQ-9: média=13,8, DP=7,21), ansiedade (GAD-7: média=11,9, DP=6,23), distúrbios do sono (PSQI: média=8,41, DP=3,85) e clima de segurança psicossocial (PSC-12: média=35, DP=18) também foram aplicados. Foram realizados testes não paramétricos em que a variável de agrupamento foi a classificação entre baixo risco (BR) e alto risco (AR) para desenvolvimento de doença mental fornecida pela PSC-12. Participantes no grupo AR tiveram pontuações significativamente mais altas do que aqueles no grupo BR, indicando uma maior presença de sintomas para depressão (AR: média=14,4, DP=6,89; BR: média=11, DP=7,92; U=12337, p<.001, r=0,271), ansiedade (AR: média=12,4, DP=6,13; BR: média=9,62, DP=6,18; U=12661, p<.001, r=0,252), distúrbios do sono (AR: média=8,68, DP=3,81; BR: média=7,18, DP=3,85; U=13197, p=,001, r=0,220), maior ocorrência de pesadelos (AR: média=1,53, DP=0,33; BR: média=1,44, DP=0,34; U=1438, p=0,022, r=0,150) e de sonhos relacionados com a pós-graduação (AR: média=1,61, SD= 0,33; BR: média=1,44, SD=0,35; U=12350, p<001, r=0,270). Análises de regressão linear com os escores da PSC-12 como variável preditora foram estatisticamente significativas para sintomas de depressão (R2=0,0570, F(1,474)=28,7, p<.001), ansiedade (R2=0,0443, F(1;474)=22, p<.001), distúrbios do sono (R2=0.0439, F(1;465)=21.4, p<.001) e frequência de pesadelos (PSC-12: R2=0,0221, F(1,474)=10,7, p=0,001). A frequência de pesadelos também foi significativamente associada com os resultados sobre sintomas depressivos (PHQ-9: R2=0,102, F=53,9, p<.001; Rho(474)=0,326, t=7,34, p<.001), ansiosos (GAD-7: R2=0,114, F=61,1, p<.001; Rho(474)=0,342, t=7,82, p<.001) e distúrbios do sono (PSQI: R2=0,104, F(1,465)=53,9, p<.001; Rho(465)= 0,323, t=6,61, p<.001) indicando que a ocorrência de pesadelos pode ser discutida como um indício clínico de sofrimento mental. Os desafios globais de saúde mental atingiram novas proporções após a pandemia de COVID-19. As previsões sobre futuras pandemias e crises relacionadas ao aquecimento global não são otimistas, e a principal esperança para lidar com essas questões deve vir de avanços científicos e tecnológicos futuros. Levando em consideração que aumentar a diversidade na ciência é uma maneira direta de aprimorar a diversidade de abordagens e criatividade na resolução de problemas, há uma responsabilidade de proteger cientistas em seus anos formativos para minimizar problemas de saúde mental, abandono de carreira e taxas de suicídio entre acadêmicos.