O conceito de bullying escolar: limites e tensões
Bullying. Epistemologia Queer. Transdisciplinaridade. Discurso ideológico.
A violência escolar, de acordo com Abramovay & Rua (2003) é um problema antigo, que se dissemina com grande velocidade por meio de comportamentos e atitudes desregrados, indisciplina, baderna, destruição do patrimônio público/privado, formação de gangues e outras manifestações mais visíveis e palpáveis. De maneira insidiosa, sorrateira e velada, outra forma específica de intimidação se desenvolve no seio escolar, passando muitas vezes despercebida para a grande maioria das pessoas: a violência bullying, conceituação que, de acordo com Antunes & Zuin (2008; 2009), foi elaborada na literatura estrangeira e adentrou prontamente no gosto dos estudiosos brasileiros mediante análises estatísticas e instrumentais. Tal violência é vista, de acordo com Fante (2008) como responsável, entre outras coisas, pelo aumento da delinquência infanto-juvenil, do assédio moral e sexual, da formação de gangues e pela intensificação do número de suicídios entre jovens e crianças. Embora seja uma problemática de fácil visualização, compreensão e percepção (graças às análises estatísticas, descritivas e comparativas entre as diferentes realidades) ainda carece substancialmente de uma investigação mais aprofundada acerca dos fenômenos sociais que lhe contextualizam, que constroem seus personagens e definem suas intempestivas relações (ANTUNES & ZUIN, 2008). Este trabalho se propõe de um lado a problematizar o discurso ideológico que produz as “verdades e critérios de definição” sobre o bullying e simultaneamente a estabelecer a abertura de um canal de dialogicidade entre aquilo que se supõe formalmente em torno desta violência junto à epistemologia ou modo de pensar queer, buscando ampliar a inteligibilidade científica acerca deste fenômeno e politizar o seu debate. Embora sejam campos aparentemente diversos, a abordagem transdisciplinar utilizada ao longo do trabalho revela uma sintonia bem mais estreita entre tais campos discursivos do que outrora se supunha serem bem disjuntivos e conflitantes.