O TRABALHO E O LABIRINTO DO MITO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL: A EXPERIÊNCIA DA CIDADANIA EMPRESARIAL DO BANCO DO BRASIL
Democracia. Capitalismo. Sociedade capitalista. Trabalho. Capital rentista.
Na crise sistêmica contemporânea do capital o dinamismo econômico acena como a tentativa de resgate possível para, dentro dos limites do capital, se constituir uma solução viável para o atual momento crítico e suas consequências. Nesta perspectiva, tenta-se planejar as políticas comerciais, agrícolas e industriais. Todavia, tal como num beco sem saída, constata-se a insuficiência do poder estatal em conferir celeridade a todos os segmentos da economia, sobretudo, em face da limitação orçamentária. Mais uma vez os gestores públicos são forçados a recorrer ao auxílio do capital financeiro, recomeçando o ciclo de submissão das políticas ao designo da banca financeira internacional e de seus representantes instalados nos chamados organismos multilaterais. O complexo ideológico do capital entra em ação na tentativa de convencer à sociedade que os caminhos tomados pelos governos são inevitáveis e que o capitalismo pode ser “humanizado”, mesmo constatadas as sucessivas iniqüidades historicamente cometidas pelo irracionalismo do modo de produção do capital. Eis que emergem os conceitos que tentam provar a compatibilidade do sistema capitalista com as reais necessidades humanas. Nesse rol de esforços ideológicos para legitimar o capital, o chamado Terceiro Setor tem especial destaque conjuntamente com o conceito de responsabilidade social das empresas. O ambientalismo apolítico e outras miragens proporcionadas - e muitas vezes financiadas - pelo metabolismo do capital igualmente se enquadram neste complexo ideológico em favor da ordem vigente. Em tal contexto, as elites políticas e considerável fração da academia embarcam nessas “ondas de otimismo capitalista”, enquanto o sociometabolismo do capital expande seus limites históricos acionando forças contratendenciais ao seu colapso iminente cada vez mais desumanas, tais como: as guerras, para o suprimento da mortífera indústria bélica; e a devastação do meio ambiente inerente à própria reprodução do sistema. Nesse cenário de desmonte, emergem as proposições em torno de um “novo pacto social” como forma de minimizar os efeitos da própria dinâmica da reprodução do capital. Eis que o empresariado é convocado para exercer seu protagonismo social por meio dos programas de responsabilidade socioempresarial, passando a intervir de forma direta na chamada “questão social”. É justamente neste ponto que se inclui o cerne da presente investigação. Embora seja considerável o número de produções acadêmicas sobre o fenômeno da Responsabilidade Social e da Cidadania Empresarial, há uma evidente carência dessa abordagem no segmento bancário no Brasil, mesmo considerando a substancial importância do capital rentista na apropriação crescente de parcelas da riqueza produzida pelo conjunto da sociedade brasileira. Percebeu-se, então, a viabilidade de uma investigação sociológica sobre os projetos de Responsabilidade Social no segmento financeiro nacional, inclusive, a partir da investigação de uma instituição-chave. Neste sentido, constatada tal possibilidade de consecução da pesquisa, optou-se por se realizar uma abordagem da dinâmica da “Cidadania Empresarial” no setor bancário, tendo como campo empírico o Banco do Brasil Há, então, a preocupação de analisar os impactos dessa estratégia de fetichização da reprodução capitalista num dos segmentos mais dinâmicos da nova ordem do capital. Pode-se, assim, dimensionar as conseqüências sociais desta via de legitimação do capital rentista, em plena predominância dos circuitos da financeirização econômica. Em meio a esse cenário de profusão do discurso da Responsabilidade Social no setor bancário brasileiro, a progressiva precarização do trabalho nesse segmento profissional no Brasil expressa, de forma contundente, a distorção que há entre o discurso e a prática operada pelo capital rentista nacional, pois há mais de uma década existe uma tendência de vulnerabilidade das condições laborais do bancário brasileiro sob diferentes formas. No caso específico do Banco do Brasil, a primeira referência da instituição foi se conformar aos postulados da ONU e do Instituto Ethos objetivando alinhar as políticas do Banco à essa nova estratégia defensiva do capital, com o propósito de inseri-lo na esfera ideológico da responsabilidade socioempresarial das empresas à imagem e semelhança das incursões sociais dos seus pares da concorrência intercapitalista privada financeira. Com efeito, surge no âmbito interno da instituição uma tentativa de doutrinação dos segmentos funcionais em prol da aceitação dos conceitos imersos na ideologia da Responsabilidade Socioempresarial apresentados como não havendo outras possibilidades para o Banco e para seus funcionários para além do conjunto de propostas apresentadas no âmbito deste novo ideário do metabolismo do capital.