Miguilins no sertão da cabaça azul: incandescência, infância e devaneios poéticos em Mutum
Devaneio poético. Infância. Sertão. Cinema. Literatura. Mutum.
A presente dissertação empreende uma leitura poética da novela Campo Geral, de Guimarães Rosa, do filme Mutum, baseado na novela citada e dirigido por Sandra Kogut e da investigação em campo realizada em cidades de Minas Gerais-MG envolvidas na realização desse filme. O propósito dessa leitura é comunicar a experiênica devaneadora realizada a partir de uma obra fílmica, de uma narrativa literária e do encontro com cinco atores não-profissionais e três pessoas da equipe técnica de Mutum. Para isso, o devaneio poético, proposto por Gaston Bachelard, é usado como recurso cognitivo para experienciar a realidade semi-imaginária do homem, a partir do acionamento do duplo no processo de participação afetiva (MORIN,1997). O filme escolhido trata das impressões de uma criança, que vive com seus pais, seus irmãos, sua avó e sua cachorra Rebeca num lugar chamado Mutum. Sob a perspectiva do ser devaneador, que medita sobre as imagens da infância onírica dentro do contexto do sertão, de um sertão que é transformado e alargado por meio do sonho poético, alcançamos a infância meditada (BACHELARD, 2006). Ao longo da narrativa desta pesquisa, Guimarães Rosa, a diretora Sandra Kogut, eu mesma enquanto indivíduo/pesquisadora e os interlocutores da Família Mutum que encontrei em Minas Gerais, todos nós somos tomados enquanto Miguilins que sonham o sertão da cabaça azul. Incandescentes, múltiplos, palimpsestos, esses Miguilins são portadores da carteira de identidade multicolorida e com ela compreendem a participação humana na Grande Narrativa (SERRES, 2005).