PRODUÇÃO AUTOPORNOGRÁFICA EM REDE: SEXUALIDADE, MÍDIA E CONSUMO NO TWITTER
Sexualidade digitalis; pornocultura; práticas autopornográficas; Twitter.
Esta pesquisa tem como objetivo investigar como a pornocultura (Attimonelli & Vicenzo, 2017) se constitui e é constituída na prática autopornográfica em redes sociais digitais, tomando como objetos empíricos de análise comunidades no Twitter. Considerando o modo de produção e consumo midiático atual, a que Henry Jenkins (2009) atribui ao fenômeno da convergência midiática, partimos da compreensão de que os consumidores dos produtos da indústria cultural, especialmente aqui o da indústria pornográfica, assumem uma posição ativa no processo de recepção, não só por meio da interação com o emissor, mas também da interação com outros consumidores em fóruns e comunidades de fãs, repercutindo, remixando e expandido o universo ficcional a partir da apropriação da linguagem midiática (fílmica, televisiva, entre outras). Ainda que as novas tecnologias informacionais e de comunicação não tenham sido as causas fundantes da convergência midiática, como ressalta Jenkins, é através das redes sociotécnicas que esse processo se acentua e alcança níveis cada vez mais profundos no tecido social. Neste cenário, em que se apresentam também transformações no campo da intimidade e da visibilidade, em curso desde os séculos anteriores (Sibilia, 2008; Del Priori, 2014; Han, 2014), e das relações de consumo e de produção capitalista (Baudrillard, 2007; Lipovetsky, 2007; Rolnik, 2019), as redes sociais digitais têm sido utilizadas como importantes campos de vivência das sexualidades, seja na mediação de encontros sexuais e amorosos, seja na produção, consumo e compartilhamento de conteúdos pornográficos. É o caso da autopornografia, em que pessoas comuns compartilham em rede relatos, vídeos e fotos de suas próprias experiências sexuais, reflexo não só do estado atual do consumo midiático e da das transformações da intimidade, mas de uma gramática sexual que habita o imaginário social e compõe uma linguagem construída pela indústria pornográfica global, no que Attimonelli & Vicenzo chamam de pornocultura, bem como reflexo da captura dessas práticas pelo mercado que, dentre muitas outras questões, estão presentes na dimensão farmacopornográfica (Preciado, 2018).