Fim de ciclo do governo pós-neoliberal no Brasil: O PT, das "Jornadas de Junho" ao golpe institucional
América Latina. Governos pós-neoliberais. Brasil. Golpe institucional. Dilma Rousseff. Luiz Inácio Lula da Silva. Partido dos Trabalhadores.
A América Latina vive um “fim de ciclo” dos governos chamados “progressistas” ou “pós-neoliberais”. Esse conjunto heterogêneo de forças políticas chegou aos postos de governo fruto do desgaste dos partidos neoliberais nos anos 1990 e da crise econômica latinoamericana de início dos anos 2000. Forças políticas que se autodenominavam “nacional e populares” como o kirchnerismo na Argentina, o chavismo na Venezuela, o evomoralismo na Bolívia e o petismo no Brasil assumiram a presidência destes países com um programa de redistribuição de renda e inclusão social, com o objetivo de assimilar os movimentos de resistência à ofensiva neoliberal no seio de um programa de colaboração com o setor do empresariado nacional. Neste projeto, queremos examinar as razões que explicam a reversão do quadro pós-neoliberal[1] no Brasil, que resultou, ainda que num processo impregnado de contradições, no reposicionamento das forças políticas tradicionalmente pertencentes ao espectro da direita: os mesmos partidos que encabeçaram a ofensiva neoliberal anteriormente. Sintetizando o objetivo da pergunta que queremos responder neste projeto, poderíamos dizer: por que a direita neoliberal brasileira conseguiu usurpar, sem grande resistência, os votos de milhões e aplicar, por meio de um golpe institucional, um programa que foi rechaçado nas eleições de 2014? Nossa ênfase será o estudo do PT no Brasil no período de 2013-2016, com o ponto de inflexão das Jornadas de Junho até o golpe institucional. Usaremos bases bibliográficas da tendência marxista de pensamento como referência, assim como escritos e documentos sobre o PT.
[1] O termo “pós-neoliberal” se refere aos governos que surgiram nos distintos países da América Latina no início do século XXI fruto das consequências do desgaste com a década neoliberal dos 1990, governos esses – como o do PT no Brasil – que contiveram o descontentamento social nos limites da sociedade capitalista, assimilando algumas reivindicações e enquadrando as expectativas de melhoria social nos marcos de uma estratégia reformista de conciliação entre capital e trabalho.