SONHOS ENTRE AS PÁGINAS DO MEU PÉ DE LARANJA LIMA: IMAGINAÇÃO E DEVANEIO POÉTICO VOLTADO À INFÂNCIA
O Meu Pé de Laranja Lima. Imaginação poética. Infância onírica. Devaneio poético. Imaginário e imagens poéticas.
A imaginação é parte indissociável do anthropos (MORIN, 2015; 2012; 2011), integrando todas as dimensões existentes na sociedade e cultura. Partindo desse pressuposto, a presente pesquisa objetiva problematizar a manifestação do imaginativo no plano sociocultural, adotando a narrativa romanesca de O Meu Pé de Laranja Lima (1995) como principal campo de estudo. Isso porque o romance conta a história de Zezé, um menino que faz uso da sua imaginação na leitura da realidade, através da qual ele imprime em si e nos outros personagens romanescos significados múltiplos oriundos de seu mundo imaginado. Com isso, as imagens literárias (BACHELARD, 2008b) presentes no romance serão lidas sob inspiração do devaneio poético voltado à infância (BACHELARD, 2009), uma vez que identifico em Zezé atributos relacionados com esse infante sonhador bachelardiano. O percurso teórico-metodológico da pesquisa está orientado pela fenomenologia da imaginação poética de Gaston Bachelard (2009; 2008), tendo em vista que me proponho a realizar uma leitura poética do romance balizado pelas imagens literárias gestadas em devaneio de leitura. Observei que no decorrer do enredo experiências traumáticas contribuíram para a supressão do potencial imaginativo de Zezé, condicionando-o a uma apreensão racional da realidade, não mais amparada pela poeticidade dos seus sonhos e amigos imaginados. Assim, o imaginar não fazia de Zezé uma criança com atributos de ingenuidade ou passividade – diferindo do comumente associado às crianças e a imaginação. Ao contrário, o potencial imaginativo do menino lhe possibilitava reinventar sua realidade por meio dos sentimentos e ações instigadas pelas imagens poeticamente concebidas.