A VITRINE TURÍSTICA: FRONTEIRAS E CONEXÕES DO ESPAÇO HIERARQUIZADO DE FORTALEZA-CE
Cidade; Turismo; Hierarquização socioespacial; Práticas sociais.
Esta tese é um estudo sobre a cidade de Fortaleza e seus espaços hierarquizados. Tem como objetivo principal compreender o processo de hierarquização socioespacial da cidade e como distintos grupos se relacionam nos lugares mais privilegiados da urbe. Como objetivos específicos, a pesquisa busca compreender as práticas e dinâmicas dos sujeitos envolvidos no processo e os usos que cada um realiza nestes lugares, as estratégias utilizadas para hierarquizar a cidade, assim como as táticas de resistência engendradas contra o poder dominante. Em um primeiro momento, lança-se mão de uma metodologia baseada na historiografia, com levantamento teórico e documental sobre a concepção de Fortaleza, as relações sociais tensionadas desde a formação do Ceará, assim como os projetos da elite e do Estado para a cidade. A formação de um estamento burocrático, enraizado em uma herança rural oriunda dos latifúndios do interior do estado, passou a guiar as transformações da urbe, agregando elementos modernizantes e seguindo um pensamento higienista sobre o urbano. Essa elite buscou ordenar e disciplinar a cidade de acordo com seus projetos. Entretanto, isso também provocou movimentos contrários, embora distantes das tomadas de decisão e do discurso oficial. Após essa releitura histórica, a segunda parte da tese segue o pensamento de Certeau (1998), buscando compreender as “práticas microbianas”, a vida fora do “poder panóptico” e dos dispositivos disciplinadores. A partir da pesquisa exploratória inicial que, inclusive, fez parte da primeira parte do estudo, considerou-se o turismo como grande investimento da burguesia para reinventar a imagem da cidade e inseri-la na pós-modernidade. Com o turismo, o poder disciplinador (FOUCAULT, 1981) passou a agir de outra maneira para manter o domínio das áreas já consolidadas da elite. Com isso, identificou-se a Avenida Beira-Mar como principal lócus desse processo, a “vitrine da cidade” para o mundo, o cartão-postal que se abre como espaço público (LEITE, 2002) e liminar (ARANTES, 1994; 2000). Desta maneira a pesquisa se caracteriza como um estudo socioantropológico da cidade, tendo como metodologia principal dois conceitos de Magnani (2008): mancha e trajeto. O primeiro define a concepção da Beira-Mar como uma mancha de lazer, principal aposta do turismo local, o segundo busca acompanhar os usuários do espaço. Entrevistas com os sujeitos, desde os planejadores do Estado até os habitués locais, fotografias e diário de campo, serão utilizados seguindo uma observação etnográfica das tramas traçadas por todos os grupos que ali dialogam. Finalmente, como principal base da pesquisa está a teoria espacial de Lefebvre (2000; 2008), com seu pensamento triádico sobre o espaço: concebido; percebido; vivido. Sendo que na primeira passagem, as duas dimensões iniciais são focadas, enquanto na segunda parte, etnográfica, a dimensão do espaço vivido ganha corpo e alma. Seja com os grupos marginalizados, outsiders iguais aos surfistas da Praia de Iracema ou skatistas da Praia dos Crushs; seja com os turistas ou frequentadores dos bares mais elitizados, todos locais da Beira-Mar. A hipótese de que se partiu para responder à questão de como e por quê os mesmos espaços mantêm seus privilégios, legitimados pelos espaços “subalternos”, foi de que o turismo é utilizado para ordenar a urbe de maneira ideológica, mantendo os privilégios de uma parte da cidade, enquanto os coloca como públicos.